sábado, 3 de outubro de 2015

Tudo vale a pena... se a alma não é pequena.

Varre. Esfrega o chão. Cozinha. Arruma a mesa. Serve. Lava a louça.

O trabalho é pesado, mas ela o faz com um sorriso no rosto. O trabalho é bem feito, porque feito com carinho e dedicação, mas não é o seu trabalho. Depois de tudo isso, ela se senta detrás de sua mesa e vai tratar das inúmeras questões administrativas e pedagógicas que envolvem qualquer escola. Sim, ela é a diretora e seu nome é Teresinha Barcelos.

Ela não está sozinha, claro. Há outros professores que compartilham com ela essa rotina multitarefas na pequena escola pelotense erguida na carente comunidade de pescadores da Colônia Z3. Mas Teresinha marca porque além de ser uma pessoa querida na comunidade e uma profissional dedicada, é um símbolo.

Um símbolo do descaso dos governos, de cima a baixo, nessa nossa pobre pátria que deveria ser educadora. Professores mal-pagos e humilhados. Professores que apanham da polícia. Professores que têm salários parcelados, que não conseguem colocar comida na mesa e que ainda escutam que têm que ser solidários. Professores que fazem greve porque o salário é parcelado e, por fazer greve, têm o salário cortado.

Mais que tudo, porém, Teresinha é um símbolo dos que não se deixam vencer. Apesar das humilhações, apesar dos parcelamentos, apesar dos cortes, ela olha para seus alunos e sorri. Ela sabe que eles não têm culpa. Mais que isso, ela sabe que é neles que reside a possibilidade de um futuro melhor. Eles não precisam pagar pelo governo corrupto e inepto que domina todas as esferas do poder (dos municípios à União, passando por cada um dos estados). Eles não precisam sofrer porque os poderes instituídos veem a educação como algo de menor importância ou, ainda pior, entendem a força da educação e fazem o possível para nos manter na ignorância. Não... eles precisam de amor.

Teresinha sabe disso. E quando a repórter lhe pergunta se todo o sofrimento e todo o cansaço vale a pena, ela responde com aquele perene sorriso no rosto: "Sempre vale a pena!"

Sim, Teresinha. Vale a pena porque tua alma não é pequena. Tua alma é grande, Teresinha. Grande como é a alma daqueles tantos professores que não desistiram, que não baixaram a cabeça. Professores que compreenderam a grandeza de sua profissão. Não se trata de missão. Não somos monges. Mas somos importantíssimos atores sociais e se fizermos as coisas do jeito certo, podemos mudar o mundo. Eu acredito. A Teresinha também.

Obrigado, Teresinha!

sábado, 26 de setembro de 2015

Minha vida em quadrinhos

Éramos umas cinquenta pessoas numa sala da UFRGS. O objetivo ali era conversar sobre histórias em quadrinhos... ou, para ser mais elegante e contemporâneo, narrativas gráficas. Mais especificamente, Watchmen, fenômeno dos quadrinhos mundiais, que mudou o conceito da HQ de heróis no mundo, mostrando personagens extremamente humanos e falíveis por trás das máscaras e roupas espalhafatosas.

Não pesquiso quadrinhos. Sou muito mais fã e leitor do que um pesquisador, mas como a proposta era uma conversa de fã para fã, topei o desafio lançado pelo amigo e professor Demétrio Alves Paz. Junto comigo, para conversar sobre os "vigilantes", o advogado e escritor Gustavo Melo Czekster, fã como eu.

A tarde foi divertidíssima. Parece que todo mundo que estava lá saiu satisfeito. E pela primeira vez em muito tempo participei de um evento acadêmico em que a plateia tinha muito o que falar. Foi ótimo! No lugar do silêncio respeitoso - quase temeroso - ou das perguntas meramente protocolares para preencher os silêncios, a discussão se prolongou por cerca de uma hora após a fala dos dois palestrantes. Só não foi além porque o horário não permitiu, pois havia fôlego para mais algumas horas de conversa. Aprendi muito!

Para quem não leu a obra, é importante saber que mais que quadrinhos, Watchmen é um mundo de referências: trata da Guerra Fria, discute as consequências da era nuclear, expõe a alma humana em seus aspectos mais sublimes e mais obscuros. Seu autor, Alan Moore, é um mestre. Um escritor que, como poucos, mesmo se considerarmos aqueles aceitos como "literatura de verdade", sabe urdir tramas extremamente complexas e significativas. Gostas de discutir religião e religiosidade? É um prato cheio. Ética e moralidade? Presentes! Lês Kant, Platão, Nietzsche ou Maquiavel? Lá estão. A riqueza da obra é tal que se em mais de três horas não conseguimos dar conta de discutir, não será neste curto espaço que irei fazê-lo. Sugiro a leitura da dissertação "Quis evaluates ipsos Watchmen? - Watchmen and narrative theory", defendida no ano passado na mesma UFRGS por Leonardo Vidal, a quem, gratamente, conheci no evento.

Meu objetivo aqui, porém, não é enaltecer Moore, sujeito genial, mas excêntrico, cujas opiniões, muitas vezes, parecem-me extremas. O que quero aqui é falar de quão importantes podem ser os quadrinhos na formação do leitor.

Para o encontro em Porto Alegre, fiz um exercício de memória sobre minha própria formação e me dei conta de que uma de minhas primeiras memórias "literárias" é de meu pai lendo o Incrível Hulk para mim. Minha mãe também lia muito para mim, mas não tenho dúvidas de que os quadrinhos foram minha porta de entrada na literatura. Depois de muita revista da Disney e  do Recruta Zero, algumas das leituras preferidas do meu pai que me "contaminaram", comecei, ainda pequeno, lendo os clássicos do Monteiro Lobato (hoje também tão criticado por alguns).

Na pequena escola municipal em que estudei até a quarta série não havia biblioteca. Só me deparei com uma quando fui, na quinta série, para o saudoso Instituto Assis Brasil, no centro de Pelotas. Ao entrar na biblioteca, tive a nítida sensação de que meus olhos saltaram das órbitas e de que meu maxilar desencaixou e foi ao chão. Devorei tudo! Era o melhor amigo das bibliotecárias e fazia concorrência comigo mesmo, de ano para ano, para ver se conseguia ler mais livros que no ano anterior.

Para chegar nesse estágio, porém, a verdade é que o leitor já estava formado. Formado pela leitura de quadrinhos. Sobretudo, quadrinhos de heróis, dos quais me tornei efetivamente fã e colecionador em julho de 1983, quando meu pai levou para casa a revista Superaventuras Marvel número 13, com uma história clássica do Demolidor e da Elektra escrita pelo também genial Frank Miller. Nunca mais parei.

Se hoje leio com prazer aqueles que são considerados os grandes nomes nacionais e internacionais da literatura é porque um dia uma HQ caiu nas minhas mãos. Não tenho dúvidas disso. "Ler" rima com "prazer". É claro que, com o tempo, meu prazer fica mais e mais sofisticado.

No que diz respeito à leitura,  isso significa que preciso partir de algo que realmente me agrade, que desperte em mim um sentimento, que me desperte o prazer, seja uma HQ, seja Júlia ou Sabrina... seja o que for. Para Pennac, não há prazer maior do que ver o leitor "bater sozinho à porta da fábrica best-seller para subir e respirar na casa do amigo Balzac"*.

Meu prazer ficou bem mais sofisticado hoje... mas isso não significa que eu precise abandonar meus velhos prazeres. Estou em paz comigo mesmo.


* PENNAC, Daniel. Como um Romance. Porto Alegre: L&PM, 2011.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Navegar é preciso...

Como não raro acontece, o rapaz parece totalmente hipnotizado pela tela do computador, que muda com uma rapidez impressionante de um texto para outro, para outro, para outro. O professor, desconfiado, aproxima-se. "Como diabos ele consegue pesquisar desse jeito?" Mas é fato... várias abas abertas, quase todas com conteúdo pertinente, à primeira vista. Parece que a pesquisa está saindo mesmo!

- Marcinho - chama o professor.

O rapaz continua ali, impassível, olhos vidrados: localiza link, abre nova aba, verifica o texto, mantém ou fecha a aba segundo seu interesse, volta para o Google.

- Ô, Marcinho! Acorda pra vida, guri!

Nesse instante, o Marcinho parece sair do transe. Meio aturdido, olha para o professor, pisca e lança a pérola:

- Navegar é preciso, viver não é preciso...

Caramba! Fernando Pessoa numa hora dessas! O professor ri e deixa o Marcinho em paz. Na outra aula, o estudante apresentaria o resultado de sua pesquisa: uma apresentação impressionante em Prezi com dois mashups de vídeo mostrando um pouco da vida e da obra de João Simões Lopes Neto.

O Marcinho é um adolescente normal. Adora o Youtube, está sempre conectado no Facebook e no Instagram, não perde a oportunidade de postar no Twitter e o WhatsApp é um amigo inseparável. Quando está estudando, em geral não perde de vista o celular, mantém o computador ligado e escuta música. Tudo ao mesmo tempo. É um Homo zappiens, um nativo digital.

Tudo isso, porém, não credencia o Marcinho a criar aquela apresentação brilhante. Ele tem um diferencial: todos os dias, faz questão de se desconectar por uma ou duas horas para ler um livro. Lê de tudo, desde autoajuda até Dostoiévski. É um devorador, muito graças à influência de seus pais.

Por gostar de literatura, pesquisar e fazer a apresentação foi fácil para ele. Para outros, a coisa foi beeeem mais complicada. Vindos de famílias que não têm o hábito da leitura e ao aprenderem, na escola, que ir para a biblioteca é castigo quando a gente se comporta mal, esses alunos desenvolveram uma barreira afetiva ao ato de ler.

O resultado disso se vê no último PISA: os estudantes brasileiros de 15 anos ficaram na antepenúltima posição de um ranking de 31 países que avalia a capacidade de ler e navegar na internet. Compreensível: se não tenho o hábito de ler, mudar a plataforma para um meio digital, mais colorido e interativo, não vai mudar muito minha capacidade de compreensão.

Não sou fã de testagens como as do PISA. Toda testagem é o retrato de um único momento, com toda a sua tensão e complicações daí decorrentes.  É algo que jamais consegue medir com exatidão o conhecimento de um estudante. Ainda assim, acende um sinal amarelo que precisa nos levar a alguma reflexão. Não é ignorando o teste que as coisas vão melhorar.

O fato é que pesquisas comprovam que o Homo zappiens tem algumas habilidades inatas para lidar com tecnologias digitais. O peixe nasce na água e nadar é apenas natural para ele. Por outro lado, o HZ precisa de um norte para aproveitar adequadamente essas tecnologias em prol de sua formação e dar esse norte é papel do professor. A tecnologia é só um meio, uma ferramenta. A tecnologia não faz mágica, mas o professor... ah, esse sim é capaz de muita mágica.

Aprendizagem significativa e colaborativa; fuga dos conteúdos fixos e enfadonhos; trabalho com pesquisas e projetos que tenham sentido na vida dos alunos; uso de muita tecnologia digital e uso de todo tipo de tecnologia (o livro é uma delas, uma garrafa pet também); acima de tudo, fazer da escola um espaço em que o aluno se sinta bem, um lugar em que ele goste de estar (o que fará com que o professor compartilhe desse bem-estar). Isso, provam-no experiências em vários países, inclusive no nosso, pode mudar radicalmente o quadro doloroso da Educação.

Para chegarmos aí em nosso querido Brasil, navegar é preciso... temos muito a navegar, mas toda viagem começa com a primeira remada: eu com meus alunos na minha escola.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

De cumple

Uma criançada faceira em volta da mesa na casa da vó Freda. Sandro, Dudu, Regina, as primas gêmeas e mais uma meia dúzia. Garrafinhas de vidro de Coca-Cola cobertas com um tipo de invólucro de cartão com personagens da Disney. Um enorme bolo coberto de glacê branco com uma velinha azul em cima representando um único número: 3. Meu aniversário.

Por incrível que possa parecer, esse é o aniversário que eu me lembro com mais nitidez. Na verdade, não sei bem se me lembro ou se as fotos tão bem guardadas pela minha mãe e que já olhei incontáveis vezes nesses 42 anos é que me fazem recordar. Uma pitada de memória emocional misturada com muito memória imagética inventada para preencher as lacunas.

Acho que esse aniversário me marcou tanto porque depois disso nunca mais dei muita importância para isso. Sempre tive a convicção de que os anos passam e pronto,  não há muito para comemorar. Para meu pai, por exemplo, não se trata de mais um ano, mas de menos um ano de vida. Uma atitude bem fatalista, mas compartilhada por muita gente.

No 4 de setembro que passou, entretanto, me senti diferente. Dizem que gente velha fica sentimental e chorona. Talvez seja isso. Mas gostei desse meu aniversário de 2015.

Gostei de receber telefonemas da minha companheira de vida, trabalhando em outra cidade no dia, dando pistas de onde encontrar meus presentes escondidos pela casa. Fiquei feliz porque ela não esperou o sábado de manhã para voltar para casa e que, apesar do cansaço, fez questão de vir depois das suas aulas na sexta para chegar de madrugada em casa, em tempo para me dar os parabéns pessoalmente, afinal, antes de a gente dormir, mesmo que tenha passado da meia-noite, ainda vale.

Deixou-me contente a acolhida dos colegas na sexta à tarde. Passei-a inteirinha em reunião, mas os colegas se encarregaram de comprar um lanchinho e docinhos para confraternizar. Tive direito até a bolo com o logo do Batman, minha personagem preferida das histórias em quadrinhos.

Alegrou-me sair da reunião e receber os parabéns de uma aluna que já estava no fim do corredor e deu volta só para me desejar felicidade e pedir que eu continuasse sendo esse professor bacana, que, segundo alguns alunos, eu sou. Aliás, recebi homenagens lindíssimas tanto pessoalmente quanto pelas redes sociais de meus alunos de perto e de longe. Não só dos alunos, mas de tantos amigos que fiz ao longo de todos esses anos.

Valeu a conversa com minha irmã, mesmo que por telefone. A ligação do meu velho, ainda que meio ranzinza. A comemoração com a família da minha companheira, que agora é minha família também (ah, por incrível que pareça, tinha bolo do Batman também em casa!). Como me disse ela, minha companheira, foi tanta comemoração que mais pareceu uma festa cigana.

Gostei! Acho que vou acabar virando fã dos meus aniversários, não pela data em si, mas simplesmente porque é bom sentir-se querido.

Obrigado, gente! Vocês me deixaram muito feliz!

sábado, 22 de agosto de 2015

A gratidão é uma benção

Alvíssaras! :-)

Na última terça, defendi minha tese. Foi uma bela experiência! Fiquei mais calmo do que costumo ficar - e normalmente sou calmo - e a banca foi extremamente generosa em suas considerações e avaliações. Foi realmente especial! A pesquisa e a escrita têm sua quota de sofrimentos: horas insones, dores recorrentes pelo corpo devido à tensão acumulada (especialmente para quem, como eu, optou por fazer um doutorado sem pedir licença do trabalho), dias de mau humor e outros de péssimo humor. Mas tem o prazer da escrita, a sensação boa e cálida de ver o texto fluindo e aquela excitação da descoberta, de ver que se conseguiu fazer as conexões necessárias e de que aquilo ali que levaste tanto tempo estudando não vai ser em vão: vai fazer sentido na tua vida e, com alguma sorte, na vida de outras pessoas também.

Mas, enfim, vou ter outros momentos para conversar sobre meus processos e descobertas. Hoje, eu quero, ou melhor, preciso - e muito - agradecer. Na realidade, tanto em minha dissertação quanto em minha tese posso dizer que uma das seções mais importantes para mim é a dos agradecimentos. Dou  especial atenção a ela, pois aqueles momentos difíceis só são suportáveis porque há várias pessoas que te apoiam e sem elas, nada seria possível.

Em geral, porém, o texto de agradecimentos fica ali, restrito a um público mais ou menos reduzido, ligado à academia. Como nem todos a quem agradeço têm essa relação com o mundo acadêmico, achei importante reproduzir aqui meu sentir. Quero muito que as pessoas saibam a quem devo a alegria de ter concluído esta etapa do meu caminho. A gratidão é uma benção, diria o budismo, e deve ser cantada a plenos pulmões, digo eu.

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AGRADECIMENTOS

Ser grato é responder com reconhecimento e afeto à generosidade que nos brindam. Nesse sentido, devo muito a muitas pessoas, que de uma ou de outra forma estiveram junto a mim nessa longa, desgastante, mas ao mesmo tempo fascinante jornada que constitui a pesquisa e a escrita da tese.

Antes de mencionar essas pessoas, contudo, preciso registrar meu reconhecimento à Universidade Federal de Santa Maria, instituição que me recebeu em seu corpo docente em 2009 e que me tem permitido a maravilhosa experiência de estar em contato com jovens professores em formação, tanto na modalidade presencial quanto na Educação a Distância, o que me permite cotidianamente renovar minhas perspectivas e minhas esperanças na Educação.

Ainda em nível institucional, não posso deixar de agradecer ao Programa de Pós-Graduação em Educação, coordenação, secretaria, professores e funcionários, pelo acolhimento como doutorando e pela enorme oportunidade de crescimento profissional e pessoal.

Pelo acolhimento agradeço também ao meu querido orientador, Amarildo Luiz Trevisan, que além de me guiar pelos meandros da pesquisa, mostrou-se um grande amigo e incentivador, sabendo dosar, com sabedoria, direção e liberdade. Igualmente, agradeço aos integrantes de seu grupo de pesquisa, o GPForma, cujos estudos e debates me ajudaram muito, no início da caminhada, a entender um pouco melhor os diferentes pontos de vista que compõem a Teoria Crítica.

A outros mestres devo também meus agradecimentos pela sua importância em minha formação. Ao professor Valdo Barcelos, da UFSM, por sua visão profundamente humana da Educação e por seus insights sempre bem-humorados, que me ajudaram a manter a tranquilidade e o equilíbrio ao longo deste trabalho. Ao professor Vilson Leffa, da UCPel, de quem primeiro ouvi falar sobre Pensamento Complexo e que desde o mestrado tem sido meu grande inspirador nas pesquisas em torno de tecnologias digitais para a Educação: profissional competente e de reconhecimento internacional, que nunca perdeu a simplicidade. E ainda ao professor Elton Vergara Nunes, meu primeiro professor na carreira de Língua Espanhola e quem me deu a primeira oportunidade de trabalho na Educação a Distânca.

No que tange ao Curso de Licenciatura em Espanhol e Literaturas EaD da UFSM, preciso agradecer a todos os professores e ex-alunos que gentilmente se dispuseram a me ajudar em minha pesquisa. Não só a estes, mas a todos os meus colegas e alunos da Educação a Distância, que me ensinam cotidianamente a ser um professor melhor. Em especial, agradeço carinhosamente à querida Vanessa Fialho, minha grande amiga e parceira de projetos, que generosamente assumiu a coordenação do curso para que eu pudesse dedicar meu tempo a este trabalho.

Como lido aqui com afetividade, não posso deixar de mencionar meus queridos orientandos do grupo Além da Visão: Bruno, Cris, Elisandra, Monica, Nubia, Scarlati e Tania. Sua dedicação e seu carinho pelos alunos de nosso curso de espanhol online para cegos têm sido inspiradores. Em especial, agradeço ao Bruno, jovem pesquisador que muito me ajudou no minucioso trabalho de transcrição das entrevistas.

Em um nível mais pessoal, tenho muito a agradecer a meus pais, Frederico e Rosa, que sempre fizeram questão de me mostrar a importância da educação na vida de uma pessoa. E, ainda, a minha irmã e a meu cunhado, Marcia e Tiago, que com seu enorme carinho na relação com os pequenos Felipe e Brenda me ajudaram muito a entender a importância do afeto na Educação.

Por fim, agradeço profundamente a minha companheira de vida e de trabalho, Angelise Fagundes, professora de espanhol, como eu, que com sua infinita delicadeza, seu coração gentil e sua constante preocupação pelos demais tem sido para mim um exemplo maravilhoso a iluminar meu caminho e uma base firme em que posso me apoiar com segurança e tranquilidade.

A todos, meu muito obrigado!

sábado, 15 de agosto de 2015

Cuidado! Cursar Letras pode afetar tua vida!

O guri cresceu na roça. Lá numa cidadezinha no interiorzão do Rio Grande do Sul. Os pais dele fizeram questão que ele fosse à escola, aprendesse as letras e os números. Ele gostou da coisa e não quis ficar por ali. Cresceu e queria continuar estudando. Mas como? Guri da roça fazer faculdade? Larga de ser bobo! Além disso, a universidade mais próxima fica a mais de trezentos quilômetros de distância. Impossível! 

De repente, porém, numa madrugada qualquer antes de ir ajudar o pai no campo, deu uma notícia no rádio que fez seus olhos brilharem: a prefeitura estava abrindo um polo de Educação a Distância na cidade. São três cursos, um deles é Letras Espanhol. O guri, agora um moço, sempre gostou mais de ler e escrever do que de calcular. Questão de gosto mesmo. Mas nunca tinha estudado espanhol. Uma vez tinha ouvido o seu Antônio da venda tentar se comunicar com um argentino que passara meio que por acidente pela cidade e o avô, às vezes, escutava uns tangos na vitrola antiga. Gostava da sonoridade daquela língua, mas daí a virar professor... 

A mãe se apaixonou pela ideia: "Meu filho, professor?" O pai apoiou: "A gente dá um jeito!" E lá se foi o moço fazer a inscrição para o vestibular.

Passou. Cursou. Aprendeu muito. Encontrou professores de todo tipo no seu curso. Os chatos, os indiferentes... mas sobretudo, deu-se conta de que, apesar da distância, a maioria dos seus professores ensinava com carinho. Eram exigentes, sim, porque ser carinhoso não significa ser indulgente, mas transmitiam com suas palavras aquilo que o toque era incapaz de fazer, devido a distância.

O moço se formou. Hoje ele é professor em uma escola do campo e ensina espanhol com o mesmo carinho para seus alunos da pequena localidade. Por que alunos de uma zona rural precisam aprender espanhol? Porque aprender uma língua estrangeira é conhecer outros mundos, outros pontos de vista, outras culturas. Aprender uma língua estrangeira faz com que eu consiga enxergar o outro e aprender a respeitá-lo. Um dia eu posso usá-la... ou não... mas a aprendizagem que está por trás da língua vai me tornar um ser humano mais completo. 

O espanhol fez diferença para o moço da roça e vai fazer diferença para seus alunos.

Bom, tenho que confessar que esta não é UMA história real. É, sim, um amálgama de várias histórias reais de vários dos meus alunos da EaD. A formação como professor de espanhol faz diferença pelo menos para a maioria deles. E o trabalho que eles fazem em suas escolas depois também é importante para as crianças e adolescentes com quem eles trabalham. Não se trata meramente de ensinar e aprender uma língua. Trata-se de ensinar e aprender a ver o mundo com outros olhos, ensinar e aprender a olhar para além do próprio umbigo.

Conto isso porque no meu período "sabático" de escrita de tese, quando não tinha tempo nem de respirar quanto mais de escrever algo que não fosse a própria tese, anotei a insólita frase do jornalista Alexandre Garcia, famoso por se achar um paladino da educação e não raro cometer heresias imperdoáveis. Dizia ele, a respeito da qualidade discutível dos cursos de medicina no Brasil: "Um curso de medicina não é um curso de letras neolatinas; é algo que vai afetar a vida das pessoas."

Pois é, seu Alexandre, tenho certeza que o senhor não se ouviu quando disse isso. Não vou discutir aqui a qualidade dos cursos em geral ou da educação, mas uma coisa posso dizer: cursar Letras Neolatinas teria afetado sua vida. Talvez, tivesse se tornado uma pessoa menos preconceituosa. Quem sabe, né? A minha vida foi afetada. A de muita gente que conheço, também. 

sábado, 8 de agosto de 2015

Ela te olha

Dentro de dez dias defendo minha tese. Com a respiração voltando gradualmente ao normal e o pterodáctilo de quase cem quilos que nesses quase três anos e meio decidiu fazer ninho sobre meus ombros ensaiando um alçar voo, achei que podia recomeçar minhas pensagens neste blog. Fiz um rápido ensaio no início do ano, mas as pernas não deram conta. Agora - espero - é para valer!

Ainda transpirando os temas que me acompanharam nesses anos de doutoramento, em especial o tema da afetividade, assisti na TV, quase sem querer, uma breve matéria sobre o Projeto "Consultório na Rua" que funciona no Rio de Janeiro. Era uma entrevista com a médica Valeska Antunes acompanhada de alguns takes tomados na rua.

De fato, boa parte do atendimento do projeto acontece num consultório "de verdade", mas a médica e os demais voluntários percorrem os caminhos da dita cidade maravilhosa para cuidar dos moradores de rua. Eles conversam com as pessoas, fazem avaliações dentro do que é possível ali ao ar livre e, quando suspeitam de alguma coisa, conduzem os pacientes interessados (nunca com coerção, nunca com violência) ao consultório para exames mais detalhados.

Bonito de ver! Mas o que mais me chamou a atenção foi o depoimento de uma jovem mulher, pouco mais que menina, identificada simplesmente como Fran. Ela nasceu na rua e lá cresceu. Mora na rua até hoje, com seus 21 anos de idade. Uma realidade triste, especialmente num país tão rico quanto o nosso. Mas para a sociedade em geral e especialmente para a grande maioria daqueles que foram eleitos para se preocupar com a gente, ela é invisível. A Fran está lá, mas não está. É um fantasma que se arrasta pelos becos mais sórdidos da cidade considerada por muitos como a mais turística e bonita do Brasil (não me julguem, mas não compartilho dessa opinião).

É um fantasma para mim e para ti. Possivelmente, se um de nós estiver visitando o Rio e essa aparição chegar perto, a gente vai apertar o passo. É um fantasma para os nossos políticos, que ao que parece, em sua maioria, estão mais preocupados em manter ou assumir o poder do que com o povo que lá os colocou. Mas a Fran não é um fantasma para a doutora Valeska.

"Ela te cuida. Ela te olha. [...] Ela é diferente. Ela toca, Ela dá esperança pra gente de novo." No final das contas, é isso que importa. As pessoas querem ser vistas e tocadas - com respeito, evidentemente. Isso vale para a vida e isso vale para a educação. Tem muito professor que não vê seu aluno e, é claro, tem muito aluno que não vê seu professor. Um toque no ombro, um aperto de mão ou ainda um abraço, para muitos, nem pensar.

O abraço afetuoso com que Valeska e Fran se despedem é um belo exemplo. Num momento em que a sociedade, fora e dentro da sala de aula, se torna cada vez mais violenta em atos e palavras, talvez possamos enxergar aí uma forma de reconstituir as relações na sala de aula e na vida. Demonstrar afeto não faz mal a ninguém.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Conectados

Conectamos!

Cansamos de ouvir gente que sequer sabe ligar um computador dizendo que na Educação a Distância não há afetividade. Aí, só nos restou conectar. E conectamos "a lo lindo"!

A primeira edição do Conexión Español foi isso: gente de todo o Rio Grande se conectando, conhecendo-se e reconhecendo-se. Encontramo-nos como velhos amigos, como quem passa por casa uma vez por semana , pelo menos, para tomar um mate, provando que apesar das distâncias, nós estamos juntos.

O evento era para ser pequeno, mas ficou gigante para nossos padrões e modestas expectativas. Mais de duzentos inscritos. Quase cento e cinquenta pessoas compareceram na sede da UFSM vindas de todo lugar do Rio Grande. Tivemos alunos e professores da vizinha Faxinal do Soturno, da quase vizinha Sobradinho, de São Lourenço do Sul, a Pérola da Lagoa, recebemos os queridíssimos e talentosos de Três de Maio com sua "Noche Española", os fronteiriços de Quaraí, o pessoal da pequena e sempre hospitaleira Vila Flores, dos novos polos de Encantado e Tio Hugo, sem falar, claro, do pessoal aqui de Santa Maria, que compareceu em peso.

Alguns polos não vieram. Ok! Acontece. Perderam muito, mas terão outras oportunidades. O que importa é que foi muito bacana rever tantos rostos conhecidos e conhecer aqueles rostos que antes só eram conhecidos pelo Moodle e pelo Facebook. Fiquei comovido com o testemunho de uma aluna: "A professora X nos encontrou no Conexión e foi de um a um, comparando com as fotos, reconhecendo-nos e abraçando-nos".

Foi lindo! Foi pura conexão! Uma conexão que começou já na organização. Angelise, Silvana, Tatiana e Luana, professoras que compõem o NDE comigo, foram grandes parceiras. Nossa conexão foi essencial para dar o primeiro passo e todos os passos que se seguiram. Depois, veio nossa parceria com a coordenação da profe Vanessa e com tantos colaboradores, muitos dos quais colocaram a alma para que o evento acontecesse.

O texto ficaria demasiado longo se citasse todos, mas, meus queridos, sintam-se mencionados e recebam meus mais sinceros agradecimentos. Professores e alunos do nosso curso se uniram aos nossos esforços iniciais. Abraçaram a causa. Alunos do presencial se colocaram a nosso lado e trabalharam como loucos. Muitos colegas apareceram pelo simples prazer de ajudar. Jorgelina Tallei, Vilson Leffa e Valdo Barcelos, nossos palestrantes, fizeram tudo no amor e na amizade. Sem esquecer a fantástica ajuda dos professores oficineiros!

Faz quase um mês, mas precisava de tempo para escrever e agradecer como deve ser feito. Muita gente elogiou minha iniciativa e meu trabalho. Mas eu só estava ali e fiz parte de tudo. O mérito é do grupo! O mérito é daqueles que vieram, viajando longas horas, e participaram, curtindo cada momento. O mérito é do afeto que construímos ao longo dos semestres, mesmo por meio do Moodle e muitas vezes apesar dele.

O E da EaD é Educação. Para os desavisados, alerto: não se faz educação sem afeto, não se faz educação (nem presencial) sem conexão. Nós conectamos!

Gracias a todos que se conectaram!

domingo, 14 de dezembro de 2014

Tempos Modernos

Com uma chave de rosca em cada mão, lá vai ele torcendo parafusos alucinadamente enquanto as peças metálicas passam a sua frente sobre a esteira veloz. O movimento é preciso, mas rápido. Não há tempo a perder. A fábrica não pode parar. A sociedade precisa consumir.

Claro que já deu para perceber que essa é uma cena do filme Tempos Modernos, clássico de Charles Chaplin, que faz uma crítica à sociedade industrializada, mecanizada, desumanizada. É a sociedade do superespecialista. Ele só sabe torcer parafusos e precisa torcê-los rápida e precisamente. Ele não tem nem ideia de como aquelas peças surgiram na sua frente. Ele sequer imagina o que é que vai sair lá ao final da linha de montagem. O superespecialista precisa ser bom no que faz, mas o resto é o resto e não interessa. Se ele sabe torcer bem o parafuso, melhor deixar os mistérios do Universo para os filósofos ou místicos.

Fico decepcionado ao ver como isso ainda é tão forte na Academia. Certa vez, convidado para participar de uma mesa redonda sobre tecnlogias digitais para o ensino de línguas, área em que trabalho há anos, fui apresentado como doutorando em Educação. Uma pesquisadora bem conhecida, ao final do debate, veio conversar comigo e questionou minha escolha. Por que Educação? Ela estava visivelmente contrariada. Para mim, a explicação é simples: trabalho com formação de professores, fiz graduação em Letras-Espanhol e sou Mestre em Linguística Aplicada. A Educação me permite ampliar alguns horizontes e estou muito feliz onde estou. Então, a pergunta é: por que não?

Essa é a maldição da superespecialidade que acomete a Academia. Se eu fiz graduação em Letras, é heresia ser doutor em outra área. E isso se repete na maioria das ciências.

O mais triste é ver como isso afeta alguns alunos de graduação. Trabalho num curso de formação de professores de espanhol que tem disciplinas que envolvem História e cultura da Espanha e dos povos latino-americanos, entre outros aspectos que vão muito além da língua. Fiquei surpreso ao ouvir a crítica de um aluno comentando que não vai ser professor de História e por isso essas disciplinas são totalmente irrelevantes para ele. Que triste!

Imaginem uma pessoa jovem com uma mentalidade dessas! Sempre explico para meus alunos, já no primeiro semestre, que um professor de língua estrangeira tem que dominar aspectos culturais, históricos, geográficos, artísticos... enfim, muita, muita coisa mesmo além da língua. Não é fácil ser um professor de espanhol. Não basta decorar regras gramaticais ou saber fazer análises sintáticas. Bom... até pode ser suficiente para conseguir um emprego qualquer, mas esse - lamento dizer - é apenas o caminho da mediocridade.

O Brasil de hoje precisa de professores que pensem amplo, que vejam longe, que saibam educar para a vida e a vida é muito mais que um punhado de normas de gramática. Acredito em professores que sejam modernos Da Vinci, sempre abertos ao novo, capazes de transcender o limite estreito de uma ciência monolítica. Que São Edgar Morin possa nos socorrer!

terça-feira, 15 de julho de 2014

Inimigo meu

Como geek assumido e fã de ficção científica, nesses últimos dias de Copa do Mundo lembrei muito do filme de 1985 intitulado Inimigo meu. Só para recordar, o filme conta a história de um piloto terráqueo e um outro, pertencente a uma raça reptiliana chamada drac, que caem em um planeta inóspito, cheio de armadilhas mortais. Terráqueos e dracs são inimigos jurados, envolvidos em uma guerra inacabável, mas diante das circunstâncias, após o previsível confronto inicial, os antagonistas são obrigados a juntar forças em nome da sobrevivência.

Ao longo do filme, o drac mostra-se inteligente o suficiente para aprender rapidamente o inglês do adversário e, logo, ensinar-lhe sua língua. Vencida, por fim, a barreira linguística, terráqueo e drac começam a aprender um sobre o outro, suas respectivas filosofias de vida, seus pensares, sonhos e sentimentos. Pasmos, percebem que, apesar de estarem "vestidos" com corpos tão díspares, suas almas têm semelhanças indiscutíveis: ambos amam, sofrem e são capazes de verdadeiros sacrifícios por aquilo em que acreditam.

Ainda que os argentinos não tenham escamas, fiquei pensando que eles são os nossos dracs (tanto quanto nós somos os dracs deles). Por que brasileiros e argentinos parecem não se entender?

Isso vem de longe, claro. Nós herdamos essa rixa boba desde antes do Tratado de Tordesilhas. Por aqui, tomamos as dores dos portugueses, por lá, dos espanhóis. Ainda somos os mesmos colonizados de ontem. Ao longo da História, o Brasil sempre se opôs e minou qualquer iniciativa argentina de se elevar como liderança regional. Quando o projeto da Hidrelétrica de Itaipu iniciou, uma parceria brasileira com o governo paraguaio, a campanha contrária argentina foi ferrenha. Chegaram a inventar filmes de terror, com Buenos Aires sendo inundada para que o Brasil tivesse energia elétrica. O único momento em que Brasil e Argentina se entenderam foi quando se uniram ao Uruguai para massacrar a ascendente economia paraguaia, durante a Guerra da Tríplice Aliança.

Passados os temporais, Brasil e Argentina, hoje, são aliados incertos no Mercosul. Nem sempre as relações entre os dois países são as melhores, mas ambos vão levando da melhor maneira possível.

Essa rixa histórica de governos acabou contaminando o povo. Fiquei chocado com algumas manifestações realmente violentas contra os argentinos na mídia e nas redes sociais. Os próprios meios de comunicação brasileiros parece que faziam questão de ressaltar a rivalidade e, mais que isso, estimulá-la. Do lado de lá da fronteira, a coisa não foi diferente. Até fotos de argentinos sorridentes queimando a bandeira brasileira, quando da derrota histórica para a Alemanha, circularam por aí.

Mas quem tem razão? Brasileiros ou argentinos? Ora, isso é óbvio: nenhum de nós!

Na final da Copa, torci alucinadamente pela Argentina. Como gaúcho acostumado a cruzar fronteiras, professor de espanhol, amigo de vários argentinos e brasileiro magoado por ter tomado sete gols da máquina germânica, não vejo como poderia ser diferente. Ok, meu sobrenome materno é Liessem (parece que tem algo a ver com uma cidadezinha minúscula na fronteira da Alemanha com Luxemburgo, Ließem), mas meu vínculo com a terra de Goethe (por quem sou apaixonado) acaba por aí. Fiquei entre decepcionado e confuso, entretanto, com as críticas (às vezes veladas) e os deboches que sofri pela minha escolha. O mais triste foi ver alguns professores (formados e em formação) de língua espanhola expressando desprezo, quando não ódio pelos argentinos, como se "argentinos" fosse o nome dado a uma entidade única e uniforme, uma criatura maligna e peçonhenta capaz das maiores vilezas. Esses professores são profissionais que mais que trabalhar com língua precisam trabalhar com cultura, com percepção e aceitação da diferença... mas parece que o discurso de que para aprender a língua é preciso compreender a cultura, para alguns, é só isso: discurso.

Tudo bem, não vou com a cara do Maradona. Mas acho o Papa Chico um baita cara! Amo Soledad Pastorutti, sou fã da dupla oscarizada Darín/Campanella, me emociono com Alfonsina Storni e enxergo Jorge Luís Borges como um deus literário. Em síntese, tenho mais motivos para amar do que para odiar a Argentina e os argentinos. Se há hermanos de mau caráter, também existem brasileiros assim. Aí está nossa política para provar o ponto de vista. Mas prefiro ficar com o testemunho de um jovem argentino que estava sendo "zoado" na rua por brasileiros enquanto concedia uma entrevista: "Gracias, Brasil! Me han recibido muy bien acá! Los quiero a todos!"

Se os argentinos são nossos dracs e vice-versa, está na hora de começarmos a olhar para além das aparências.