sábado, 20 de dezembro de 2014

Conectados

Conectamos!

Cansamos de ouvir gente que sequer sabe ligar um computador dizendo que na Educação a Distância não há afetividade. Aí, só nos restou conectar. E conectamos "a lo lindo"!

A primeira edição do Conexión Español foi isso: gente de todo o Rio Grande se conectando, conhecendo-se e reconhecendo-se. Encontramo-nos como velhos amigos, como quem passa por casa uma vez por semana , pelo menos, para tomar um mate, provando que apesar das distâncias, nós estamos juntos.

O evento era para ser pequeno, mas ficou gigante para nossos padrões e modestas expectativas. Mais de duzentos inscritos. Quase cento e cinquenta pessoas compareceram na sede da UFSM vindas de todo lugar do Rio Grande. Tivemos alunos e professores da vizinha Faxinal do Soturno, da quase vizinha Sobradinho, de São Lourenço do Sul, a Pérola da Lagoa, recebemos os queridíssimos e talentosos de Três de Maio com sua "Noche Española", os fronteiriços de Quaraí, o pessoal da pequena e sempre hospitaleira Vila Flores, dos novos polos de Encantado e Tio Hugo, sem falar, claro, do pessoal aqui de Santa Maria, que compareceu em peso.

Alguns polos não vieram. Ok! Acontece. Perderam muito, mas terão outras oportunidades. O que importa é que foi muito bacana rever tantos rostos conhecidos e conhecer aqueles rostos que antes só eram conhecidos pelo Moodle e pelo Facebook. Fiquei comovido com o testemunho de uma aluna: "A professora X nos encontrou no Conexión e foi de um a um, comparando com as fotos, reconhecendo-nos e abraçando-nos".

Foi lindo! Foi pura conexão! Uma conexão que começou já na organização. Angelise, Silvana, Tatiana e Luana, professoras que compõem o NDE comigo, foram grandes parceiras. Nossa conexão foi essencial para dar o primeiro passo e todos os passos que se seguiram. Depois, veio nossa parceria com a coordenação da profe Vanessa e com tantos colaboradores, muitos dos quais colocaram a alma para que o evento acontecesse.

O texto ficaria demasiado longo se citasse todos, mas, meus queridos, sintam-se mencionados e recebam meus mais sinceros agradecimentos. Professores e alunos do nosso curso se uniram aos nossos esforços iniciais. Abraçaram a causa. Alunos do presencial se colocaram a nosso lado e trabalharam como loucos. Muitos colegas apareceram pelo simples prazer de ajudar. Jorgelina Tallei, Vilson Leffa e Valdo Barcelos, nossos palestrantes, fizeram tudo no amor e na amizade. Sem esquecer a fantástica ajuda dos professores oficineiros!

Faz quase um mês, mas precisava de tempo para escrever e agradecer como deve ser feito. Muita gente elogiou minha iniciativa e meu trabalho. Mas eu só estava ali e fiz parte de tudo. O mérito é do grupo! O mérito é daqueles que vieram, viajando longas horas, e participaram, curtindo cada momento. O mérito é do afeto que construímos ao longo dos semestres, mesmo por meio do Moodle e muitas vezes apesar dele.

O E da EaD é Educação. Para os desavisados, alerto: não se faz educação sem afeto, não se faz educação (nem presencial) sem conexão. Nós conectamos!

Gracias a todos que se conectaram!

domingo, 14 de dezembro de 2014

Tempos Modernos

Com uma chave de rosca em cada mão, lá vai ele torcendo parafusos alucinadamente enquanto as peças metálicas passam a sua frente sobre a esteira veloz. O movimento é preciso, mas rápido. Não há tempo a perder. A fábrica não pode parar. A sociedade precisa consumir.

Claro que já deu para perceber que essa é uma cena do filme Tempos Modernos, clássico de Charles Chaplin, que faz uma crítica à sociedade industrializada, mecanizada, desumanizada. É a sociedade do superespecialista. Ele só sabe torcer parafusos e precisa torcê-los rápida e precisamente. Ele não tem nem ideia de como aquelas peças surgiram na sua frente. Ele sequer imagina o que é que vai sair lá ao final da linha de montagem. O superespecialista precisa ser bom no que faz, mas o resto é o resto e não interessa. Se ele sabe torcer bem o parafuso, melhor deixar os mistérios do Universo para os filósofos ou místicos.

Fico decepcionado ao ver como isso ainda é tão forte na Academia. Certa vez, convidado para participar de uma mesa redonda sobre tecnlogias digitais para o ensino de línguas, área em que trabalho há anos, fui apresentado como doutorando em Educação. Uma pesquisadora bem conhecida, ao final do debate, veio conversar comigo e questionou minha escolha. Por que Educação? Ela estava visivelmente contrariada. Para mim, a explicação é simples: trabalho com formação de professores, fiz graduação em Letras-Espanhol e sou Mestre em Linguística Aplicada. A Educação me permite ampliar alguns horizontes e estou muito feliz onde estou. Então, a pergunta é: por que não?

Essa é a maldição da superespecialidade que acomete a Academia. Se eu fiz graduação em Letras, é heresia ser doutor em outra área. E isso se repete na maioria das ciências.

O mais triste é ver como isso afeta alguns alunos de graduação. Trabalho num curso de formação de professores de espanhol que tem disciplinas que envolvem História e cultura da Espanha e dos povos latino-americanos, entre outros aspectos que vão muito além da língua. Fiquei surpreso ao ouvir a crítica de um aluno comentando que não vai ser professor de História e por isso essas disciplinas são totalmente irrelevantes para ele. Que triste!

Imaginem uma pessoa jovem com uma mentalidade dessas! Sempre explico para meus alunos, já no primeiro semestre, que um professor de língua estrangeira tem que dominar aspectos culturais, históricos, geográficos, artísticos... enfim, muita, muita coisa mesmo além da língua. Não é fácil ser um professor de espanhol. Não basta decorar regras gramaticais ou saber fazer análises sintáticas. Bom... até pode ser suficiente para conseguir um emprego qualquer, mas esse - lamento dizer - é apenas o caminho da mediocridade.

O Brasil de hoje precisa de professores que pensem amplo, que vejam longe, que saibam educar para a vida e a vida é muito mais que um punhado de normas de gramática. Acredito em professores que sejam modernos Da Vinci, sempre abertos ao novo, capazes de transcender o limite estreito de uma ciência monolítica. Que São Edgar Morin possa nos socorrer!

terça-feira, 15 de julho de 2014

Inimigo meu

Como geek assumido e fã de ficção científica, nesses últimos dias de Copa do Mundo lembrei muito do filme de 1985 intitulado Inimigo meu. Só para recordar, o filme conta a história de um piloto terráqueo e um outro, pertencente a uma raça reptiliana chamada drac, que caem em um planeta inóspito, cheio de armadilhas mortais. Terráqueos e dracs são inimigos jurados, envolvidos em uma guerra inacabável, mas diante das circunstâncias, após o previsível confronto inicial, os antagonistas são obrigados a juntar forças em nome da sobrevivência.

Ao longo do filme, o drac mostra-se inteligente o suficiente para aprender rapidamente o inglês do adversário e, logo, ensinar-lhe sua língua. Vencida, por fim, a barreira linguística, terráqueo e drac começam a aprender um sobre o outro, suas respectivas filosofias de vida, seus pensares, sonhos e sentimentos. Pasmos, percebem que, apesar de estarem "vestidos" com corpos tão díspares, suas almas têm semelhanças indiscutíveis: ambos amam, sofrem e são capazes de verdadeiros sacrifícios por aquilo em que acreditam.

Ainda que os argentinos não tenham escamas, fiquei pensando que eles são os nossos dracs (tanto quanto nós somos os dracs deles). Por que brasileiros e argentinos parecem não se entender?

Isso vem de longe, claro. Nós herdamos essa rixa boba desde antes do Tratado de Tordesilhas. Por aqui, tomamos as dores dos portugueses, por lá, dos espanhóis. Ainda somos os mesmos colonizados de ontem. Ao longo da História, o Brasil sempre se opôs e minou qualquer iniciativa argentina de se elevar como liderança regional. Quando o projeto da Hidrelétrica de Itaipu iniciou, uma parceria brasileira com o governo paraguaio, a campanha contrária argentina foi ferrenha. Chegaram a inventar filmes de terror, com Buenos Aires sendo inundada para que o Brasil tivesse energia elétrica. O único momento em que Brasil e Argentina se entenderam foi quando se uniram ao Uruguai para massacrar a ascendente economia paraguaia, durante a Guerra da Tríplice Aliança.

Passados os temporais, Brasil e Argentina, hoje, são aliados incertos no Mercosul. Nem sempre as relações entre os dois países são as melhores, mas ambos vão levando da melhor maneira possível.

Essa rixa histórica de governos acabou contaminando o povo. Fiquei chocado com algumas manifestações realmente violentas contra os argentinos na mídia e nas redes sociais. Os próprios meios de comunicação brasileiros parece que faziam questão de ressaltar a rivalidade e, mais que isso, estimulá-la. Do lado de lá da fronteira, a coisa não foi diferente. Até fotos de argentinos sorridentes queimando a bandeira brasileira, quando da derrota histórica para a Alemanha, circularam por aí.

Mas quem tem razão? Brasileiros ou argentinos? Ora, isso é óbvio: nenhum de nós!

Na final da Copa, torci alucinadamente pela Argentina. Como gaúcho acostumado a cruzar fronteiras, professor de espanhol, amigo de vários argentinos e brasileiro magoado por ter tomado sete gols da máquina germânica, não vejo como poderia ser diferente. Ok, meu sobrenome materno é Liessem (parece que tem algo a ver com uma cidadezinha minúscula na fronteira da Alemanha com Luxemburgo, Ließem), mas meu vínculo com a terra de Goethe (por quem sou apaixonado) acaba por aí. Fiquei entre decepcionado e confuso, entretanto, com as críticas (às vezes veladas) e os deboches que sofri pela minha escolha. O mais triste foi ver alguns professores (formados e em formação) de língua espanhola expressando desprezo, quando não ódio pelos argentinos, como se "argentinos" fosse o nome dado a uma entidade única e uniforme, uma criatura maligna e peçonhenta capaz das maiores vilezas. Esses professores são profissionais que mais que trabalhar com língua precisam trabalhar com cultura, com percepção e aceitação da diferença... mas parece que o discurso de que para aprender a língua é preciso compreender a cultura, para alguns, é só isso: discurso.

Tudo bem, não vou com a cara do Maradona. Mas acho o Papa Chico um baita cara! Amo Soledad Pastorutti, sou fã da dupla oscarizada Darín/Campanella, me emociono com Alfonsina Storni e enxergo Jorge Luís Borges como um deus literário. Em síntese, tenho mais motivos para amar do que para odiar a Argentina e os argentinos. Se há hermanos de mau caráter, também existem brasileiros assim. Aí está nossa política para provar o ponto de vista. Mas prefiro ficar com o testemunho de um jovem argentino que estava sendo "zoado" na rua por brasileiros enquanto concedia uma entrevista: "Gracias, Brasil! Me han recibido muy bien acá! Los quiero a todos!"

Se os argentinos são nossos dracs e vice-versa, está na hora de começarmos a olhar para além das aparências.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Respeitar para ser respeitado

Minha mãe sempre me dizia mais ou menos assim: "Respeita as pessoas e elas vão te respeitar. E se, por uma pobreza muita grande de espírito, elas não te respeitarem na mesma medida, no mínimo, vais ter tua consciência tranquila. Vai em frente de cabeça erguida e deixa para trás a ofensa. Esse tipo de pessoa não merece que percas uma noite de sono."

Espero que a presidente (ou presidenta, como ela prefere) Dilma tenha tido uma mãe como a minha e recebido um conselho como este, pois o triste espetáculo de ontem é algo para ser transcendido (jamais esquecido). Ontem, como a maioria dos brasileiros, assisti chocado a uma falta de respeito imensa. A presidente não foi apenas vaiada, mas um coro desaforado de gente pouco inteligente, porquanto incapaz de debate democrático e argumentação coerente, gritou em uníssono que ela deveria "tomar no c..."

Depois de testemunhar o fato na TV, li a notícia em vários meios de comunicação e blogs, e fiz questão de percorrer os comentários. O debate, em todos os lugares, foi acirrado, acalorado. Chamou-me atenção, entretanto, a violência, a truculência verbal dos críticos da Dilma. Na grande maioria dos comentários que li, quando eles não terminam mandando "tomar no c..." optam pela igualmente deselegante "vá se f..." Regra geral, claro, com honrosas exceções.

Vejam bem, não morro de amores por ela ou por seu governo. Não sou, nunca fui e creio que jamais serei fã do Lula ou ativista do PT. A corrupção e os erros acompanharam ambas as administrações, mas não vejo, neste aspecto, nada de muito diferente dos governos do PSDB ou similares de direita, por exemplo. Vivemos uma Era Collor com impeachment. Vivemos uma Era FHC com privatizações vergonhosas. Parece que as pessoas esquecem.

Não estou dizendo que não se deva protestar. Sou amplamente favorável à manifestação democrática. Só penso que democracia não rima com violência, seja ela física ou verbal. Há maneiras inteligentes de se fazer ouvir.

Talvez algumas pessoas argumentem que não respeitam a Dilma porque ela não os respeita. Tudo bem! Mas nunca vi a Dilma mandar alguém tomar no c... em público. Se o desrespeito que veem nela vem de seus atos políticos, é preciso agir politicamente para combatê-la.

Não posso calar-me, porém, diante da realidade que vivo: o cotidiano da educação. Há muita coisa errada, há inúmeras coisas para melhorar, mas não posso negar que as condições que temos hoje na universidade são muito melhores do que as que tivemos com Fernando Henrique. Hoje, muitas mais pessoas têm a chance de cursar uma universidade do que ontem e cada vez mais o número cresce.

Não concordo com muitas opções do MEC sobre avaliação da educação, por exemplo, mas como professor, faço questão de debater e expor meu ponto de vista onde quer que vá, procurando manter coerência e equilíbrio. Não preciso ofender a pessoa de quem discordo. Eu mesmo, em consequência dos textos que publico, já fui ofendido por gente que não tem mais argumento que a violência, a palavra grosseira e ofensiva, mas sempre procuro responder com a voz da razão.

Felizmente, as vozes que se ergueram ontem no estádio eram evidentemente minoria. Uma minoria que pagou no mínimo seiscentos reais para estar ali. Por que tanta violência justamente dessas pessoas? Isso dá o que pensar! Seja como for, independente do que pretendiam, o fato é que sua ação brutal o que conseguiu foi causar uma onda de simpatia pela ofendida. Em mais de uma ocasião, nos debates que li, identifiquei pessoas afirmando que não votariam na Dilma na próxima eleição, mas que mudaram de ideia diante do triste espetáculo.

Então, acho que minha mãe tinha razão: quem não respeita, não é respeitado.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Educação e artesania

No último 29 de abril tive a felicidade de ser uma das cerca de quinhentas pessoas que assistiram à fala do educador português José Pacheco, conhecido popularmente como Zé da Ponte, por sua experiência de uma escola nada convencional em Portugal, uma escola sem salas de aula e sem ensino seriado, a Escola da Ponte. Trata-se de um projeto tão interessante que acabou sendo replicado em vários lugares, no Brasil inclusive.

Hoje, Pacheco trabalha como voluntário no Projeto Âncora, na periferia de Cotia, no interior de São Paulo, onde escola e comunidade desenvolvem, em comunhão e harmonia, como tem que ser, um esforço educativo para aprender e melhorar as condições locais. Todo mundo trabalha junto. As crianças desenvolvem projetos, sempre dentro de seus próprios interesses, em que, além de aprender naturalmente o que o currículo obrigatório exige, ajudam a tornar o espaço que habitam um lugar melhor para se viver. Os adultos se envolvem junto. São voluntários. Mesmo quem não sabe ler e escrever tem espaço para ajudar os menores com suas experiências de vida. Em troca, são apresentados às letras. Aqueles que querem, claro.

Pacheco contou tantas histórias e todas são tão comoventes e interessantes, que fica difícil selecionar uma só para compartilhar. Mas quero comentar de uma que me parece caracterizar bem um dos grandes problemas da escola de hoje.

Já há vários anos, Pacheco recebeu em sua escola um grupo de adolescentes vindos de uma casa para menores infratores. Eles vinham acompanhados de assistente social, psicóloga e dois policias com suas respectivas armas em punho, claro. Gurizada perigosa! Prostituição, tráfico e até homicídio estavam entre os crimes cometidos. A assistente declamou toda a lista de delitos dos guris. "O senhor quer ficar com eles? Ninguém mais aceitou." "Fico." A assistente social, meio incrédula: "O senhor tem certeza?" "Ora, se eu disse que fico, fico." Um dos policiais, claro, se prontificou a ficar por ali. O fuzil podia ser necessário. Não, não era preciso, respondeu o Zé.

Depois que as autoridades foram embora, Pacheco convidou os guris a sentar. "Que vocês querem me perguntar?" Eles se olharam. Possivelmente esperavam um sermão, reprimendas ou ameaças. Quando menos, um discurso pedagógico. A pergunta os deixou mudos, até que um se atreveu. "Eu tenho uns passarinhos lá na casa, sabe, mas me disseram que estão sujando tudo e que assim não dá. Vão botar eles fora. Posso trazer para cá?" "Pode." "Posso?" "Sim... mas aqui não tem lugar direito para eles. Vocês vão ter que dar um jeito de construir um lugar para que eles fiquem." "Eu já construí um viveiro uma vez.", disse outro. "Ótimo! Então vamos montar um projeto!" "Projeto?" "Isso mesmo! Peguem papel e caneta. Anotem aí: projeto. Certo. Agora escrevam: objetivo. Coloquem dois pontos e ponham que o objetivo de vocês é construir um viveiro. Pois bem, vocês sabem calcular área? Não? Então anotem aí: aprender a calcular área..." E assim foi. Os guris, marginais superperigosos, segundo a visão geral, saíram de lá com um objetivo concreto, uma perspectiva de vida, pelo menos para os próximos dias, e um projeto que envolvia cerca de quarenta temas do currículo do ensino básico.

Nos dias que se sucederam, eles aprenderam a calcular área, reciclar materiais e muito mais. Construíram o viveiro. Levaram os pássaros. No nono dia estava tudo pronto. Após a assembléia semanal dos alunos, todos os que tinham interesse em aprender sobre viveiros, espécies de pássaros e cálculos para construção se reuniram para ouvir a explanação dos guris detentos. Empolgados, eles fizeram uma exposição e responderam a perguntas, ensinando o que sabiam a seus pares durante cerca de hora e meia, enquanto os professores, quietinhos para não atrapalhar, iam avaliando o domínio deles dos conteúdos estudados.

Hoje, o mais velho desses guris sem futuro tem 56 anos e é dono de três empresas de construção.

Pois é, essa escola e esses professores conseguiram mudar a vida dessas crianças, que, antes, nunca tinham tido oportunidades. Se aprendêssemos a ouvir mais os nossos alunos, talvez as coisas fossem diferentes do que é hoje na educação. Infelizmente, escola, hoje, é linha de montagem fordista. Os alunos precisam ficar estáticos na esteira que é a sala de aula. Vão passando de mão em mão, de professor para professor. Ninguém os escuta, porque eles são só peças, coisas mecânicas que devem responder mecanicamente. A muitos professores só interessa colocar um parafuso aqui, um retentor ali, um vedante acolá. Cumprir currículo, de tal modo que todo mundo aprenda a mesma coisa ao mesmo tempo, o que é impossível, para não dizer ridículo.

O pior de tudo é que nossas leis são muito bonitas no papel. Autonomia, pesquisa, etc. Como disse o próprio Pacheco: por aqui, enaltecem o sistema finlandês de ensino, mas esquecem que a Finlândia praticamente eliminou a prova como elemento avaliativo, enquanto no Brasil, parece que a cada ano surgem mais provas. Com isso, nem mesmo quem quer fazer diferente, quem quer humanizar a educação, encontra apoio legal ou institucional. É difícil! Mas vamos lá... já deu para ver que não é impossível. Educação não pode ser linha de montagem. Educação é trabalho artesanal.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Valesca Popozuda e o fim do mundo

Escândalo! Terror! O Apocalipse bate as nossas portas! Seu principal arauto: Antônio Kubitschek, professor de Filosofia de uma escola de Taguatinga, que, sentado às costas da Grande Besta da Educação Brasileira, espalha sua mensagem infernal aos inocentes jovens, perdidos e alienados: Valesca Popozuda é uma grande pensadora!

O maquiavélico professor teve a petulância de redigir uma prova a respeito da construção de valores morais e citar Valesca Popozuda como "grande pensadora". O que merece um professor desses? Certamente o escárnio e a execração pública... pelo menos é o que a grande mídia "pensa"... ou será que a grande mídia está com inveja justamente porque não pensa?

Não é estranho que a mídia televisiva em geral - salvo raríssimas e honrosas exceções - insista em promover Popozudas, Anittas e companhia, transformando-as em cultura popular, e que no momento em que um professor lança mão dessa cultura para aproximar seu conteúdo do cotidiano dos alunos transforme-se imediatamente em alvo de críticas? O que querem? Uma escola-prisão em que o aluno fique isolado do cotidiano e, portanto, da realidade?

Não, não estou dizendo aqui que Valesca Popozuda tenha que virar bibliografia obrigatória do Ensino Médio nem defendendo o título de "grande pensadora" - ainda que ninguém possa duvidar de que ela pensa. Mas tampouco posso negar que a moça exista. Talvez amanhã ninguém mais se lembre dela, mas hoje... ah, hoje até a "elite intelectual" dos professores universitários cantam "beijinho no ombro" por aí (não me venham dizer que não). E se a dona Popozuda é uma realidade popular, o professor Antônio não está mais que cumprindo uma premissa básica de qualquer educador minimamente consciente: para aproximar o aluno dos cânones, dos grandes pensadores, da grande literatura, o único caminho é criar uma ponte entre a realidade que ele vive e aquilo que a academia ou a escola têm para oferecer.

Por favor, senhores da grande mídia toda-poderosa, deixem a educação para os educadores! Sua crítica sempre precipitada e vazia só atrapalha o nosso trabalho.

Lembram do livro didático que "ensinava a falar errado"? Outro absurdo! Foi monstruosa a campanha de alguns meios de comunicação contra a obra, especialmente de certa emissora que tem poderes divinos no nosso país. Notícias, comentários e programas de debate inteiros para distorcer a simples verdade de que sim, existe no país pessoas que falam "os menino pega os peixe". 

Nunca o livro ou suas autoras quiseram dizer que se devia falar assim. Qualquer linguista, e mesmo profissionais sérios de outras áreas, sabem que os fatos linguísticos simplesmente existem e têm que ser respeitados. É sumamente desejável que uma criança de origem humilde vá à escola e chegue à universidade, aprimorando sua maneira de falar e escrever ao longo do tempo. Mas essa criança precisa ter consciência de que há outras pessoas humildes que, infelizmente, nunca tiveram ou terão essa oportunidade. São pessoas - talvez seus próprios pais - que falam uma outra variedade do português brasileiro, com todas as suas marcas. Mais que isso: não se pode discriminar essas pessoas só porque se expressam de maneira diferente. Era a única lição que o livro queria ensinar... mas como sempre, é mais fácil criticar que tentar entender.

Sinceramente, espero que, apesar da ditadura da mídia televisiva com seus slogans vazios sobre educação, o exemplo do professor Antônio se espalhe. É preciso criar pontes, é preciso aproximar a cultura popular da escola e ajudar as pessoas para que consigam fazer uma transição do popular para o canônico, para o clássico, para o acadêmico. A TV massifica tanto a população com seu lixo diário que estas artimanhas se tornaram necessárias.

Não, o mundo não vai acabar hoje, mas garanto a vocês: não é graças a certa elite midiática. Se o mundo não acaba é porque pessoas como o Antônio ainda nos dão esperanças de que a educação pode sair do seu pedestal e alcançar o povo.

Para terminar, só posso dizer: Antônio, tamo contigo, mano!

sexta-feira, 21 de março de 2014

"Vamos matar todo mundo!"

Linda e inteligente... pelo menos é o que pensa de si mesma a moça que participa do programa famoso de televisão. Advogada, adora gabar-se de sua "brilhante" capacidade de argumentação. E é argumentando que ela afirma, a respeito dos portadores de HIV: "Vamos matar todo mundo!" Simples assim! A gente acaba com as pessoas com HIV e a AIDS desaparece do mundo. Realmente genial! Como ninguém nunca pensou nisso antes?

Ops... já pensaram, não é? Pois é, Alan Moore, autor da icônica graphic novel V de Vingança, afirmou que criou sua obra sobre uma sociedade futurista e radicalmente fascista com base no governo Margareth Thatcher, momento histórico em que, segundo o autor, circulavam pelas ruas de Londres verdadeiras aberrações inspiradas pela mão pesada da Dama de Ferro, inclusive a criação de campos de concentração para pessoas com AIDS e sua consequente eliminação.

Boatos de "limpeza populacional" durante guerras africanas e do leste europeu envolvendo pessoas portadoras do vírus da AIDS também circularam pela internet durante algum tempo. Ora, se já estamos matando os inimigos, por que não matar pessoas com AIDS, para evitar que a praga se espalhe? Aliás, por que não matar todos os doentes, fracos e pessoas com algum tipo de deficiência?

Seria perfeito! Um mundo cheio de gente linda, alta, de cabelos loiros e olhos azuis! Mas espera... alguém já sonhou com isso uma vez, não é? Se não me engano o nome dele era Hitler ou algo parecido. Parece que foi um governante amado pelo seu povo e que fez muita coisa boa por aí. Não sei que fim levou. Parece que a ideia não deu muito certo...

Ironias à parte, deixo aqui registrada minha indignação. Não tenho o "prazer" de assistir o Baita Bestialidade Brasil, mas me acostumei, ano após ano, a ler e ouvir na mídia o conjunto inacabável de aberrações que as "bestas" costumam fazer e dizer. É impossível ignorar. Até histórias de estupro ao vivo rolaram!

Só neste ano de 2014, já apareceu uma besta (e besta gaúcha, o que me deixa ainda mais triste) fazendo comentários racistas, outra besta dizendo que tem nojo de gay, mas não tem preconceito, e até uma besta fazendo gracinha com a tragédia de Santa Maria. Gênios todos!

As tecnologias são fantásticas. Têm tudo para ajudar a educação. Por enquanto, porém, só posso rezar que, quem sabe um dia, a gente possa ter uma TV que consiga evitar os programas ridículos de apelo fácil, que só sabem deseducar e brutalizar, e invistam um pouco na inteligência e na formação de cidadãos críticos. Amém.

sábado, 8 de março de 2014

Coisas de mulher


Há algumas semanas circulou intensamente pela internet o curta-metragem Maioria Oprimida ou Majorité Opprimée, no original francês, dirigido brilhantemente pela cineasta francesa Eléonore Pourriat. Trata-se de um curta premiado, já com uns quatro anos de idade, mas que só agora, com o auxílio das redes sociais, ganhou o grande público. E é GE-NI-AL!

O filme mostra uma sociedade dominada pelas mulheres e tem como protagonista um homem, dono de casa, que cuida das crianças e cumpre todas as atribuições tradicionalmente imputadas ao sexo feminino na nossa sociedade patriarcal. O que mais chama a atenção, entretanto, é a violência, às vezes implícita, outras nem um pouco, que ele sofre. Caminhar pela rua com as mulheres olhando seu traseiro quando passa, ser abordado e ter que ouvir piadinhas de uma mulher de aspecto assustador parada numa esquina, quando se vê obrigado a parar de bicicleta num sinal vermelho, é o mínimo. A situação, até o fim do filme, fica bem pior. O sexismo, a opressão e os exercícios de poder não param. 

Comentando o filme, a jornalista Joana Calmon disse que sentiu compaixão pelo protagonista e que, talvez, se fosse uma mulher no papel, ela não se impressionaria tanto. É fato! O vídeo choca a audiência pela inversão dos papéis, porque nele, consegue-se ver desde outro ponto de vista a realidade cruel do abuso por que as mulheres passam todos os dias.

Está nos jornais, está pelas ruas. São pais que não deixam que as filhas estudem na universidade porque mulher tem que pilotar fogão. São maridos que proíbem as esposas de trabalhar porque é o homem que tem que prover. São os colegas de trabalho com suas piadinhas machistas. São vagabundos na rua que não perdem a oportunidade de dizer uma bobagem qualquer para lembrar à mulher de que ela é só um pedaço de carne e, assim, reafirmar sua flácida hombridade.

São homens tristes estes. Sombras de homens, na verdade, porque um homem que não sabe respeitar uma mulher, sequer de homem pode ser chamado.

Não quero ser piegas, tampouco colocar o sexo feminino num altar. Elas, como nós, são pessoas. Humanos seres com humanas falhas. Loiras, morenas, altas, baixas. magras e gordas. Gente como a gente. E essa é a constatação mais triste: há gente que não respeita gente. Chamar um homem negro de macaco ou uma mulher de vagabunda denota o mesmo tipo de miséria humana. É a miséria do espírito. Algo que só pode ser solucionado com a Educação, mas não esta compartimentada, fragmentada e empobrecida que temos hoje, e sim com uma Educação humanista, que nos faça refletir mais seriamente sobre quem é o ser humano sobre este planeta, o que nos diferencia e o que nos aproxima. Se entendemos melhor aquilo que é diferente de nós, passamos a respeitá-lo mais.

Independente da longa trilha que ainda há a percorrer, neste dia da mulher de 2014, gostaria apenas de dizer obrigado a todas estas mulheres com quem tive e tenho a sorte de conviver em minha vida. Minhas colegas de trabalho, professoras com quem compartilho tantos sonhos de construir um mundo melhor. Minhas alunas que me ensinam tanto todos os dias. Meus antigos amores, que me fizeram amadurecer e aprender a respeitar ainda mais o sexo feminino. Meu amor de hoje, que com sua inteligência, doçura e paciência me trouxe um pouco de paz e equilíbrio. Minha irmã, que realizou, por amor, o milagre da maternidade pela segunda vez há menos de um mês. Minhas sobrinhas recém nascidas, Brenda e Antonia, para quem, espero, o mundo possa ser um lugar mais acolhedor. E acima de todas, minha mãe, hoje mulher-anjo, que me ensinou os primeiros passos, as primeiras letras e estabeleceu indelevelmente dentro de mim a admiração por estas criaturas que fazem do mundo um lugar um pouco menos assustador de se viver.

Feliz Dia Internacional da Mulher!


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

12 anos de escravidão... ou um tanto mais...

"Qualquer servo que não obedecer seu amo será punido com a chibata!", afirma o senhor de escravos fingindo que lê a Bíblia. Essa é uma das muitas cenas marcantes do excelente filme dirigido por Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão. Essa era a "lei de Deus" para os negros condenados aos campos de algodão dos Estados Unidos da escravidão.

A cena, como muitas do filme, choca não pela imagem em si. Mesmo os tapas, chibatadas, socos, pontapés e afins não são gratuitos. São muito bem pensados, convenientemente colocados para criar um clima de opressão. A cena choca porque desperta na plateia mais atenta a consciência de que este foi o tipo de lavagem cerebral imposta aos africanos que aportaram por estas terras americanas de lá e daqui para que suportassem o horror absurdo da escravidão. A típica mentalidade europeia medieval do deus vingativo, do sofrimento necessário, da culpa que precisa ser expiada, que a Igreja usava para dominar os incultos e incautos.

Negro que sai da linha e fere a lei divina do explorador branco vai para o tronco e enfrenta o chicote ou, quando não tem jeito, vai para a forca, que gastar bala com escravo é desperdício. Isso eles tinham que aprender desde cedo. Negro com quinze anos já era veterano. Quinze anos... como o guri que foi amarrado num poste do bairro do Flamengo, no Rio há duas semanas. Espancado por quinze marmanjos. Ameaçado de morte. Aprisionado pelo pescoço com uma trava de bicicleta.

Ok, o guri já tem suas passagens pela polícia. Não é nenhum anjo. Mas daí a defender que teve o que mereceu como o fez a pseudojornalista Sheherazade em suas excrescências de Mil e uma Noites de Terror na TV é um pouco demais. O pior é que essa é a mesma Sheherezade que defende que o Justin Bieber é um pobre menino rico que só está fazendo suas artes normais de moleque em crescimento. Sua mensagem, em síntese, é clara: marginal negro e pobre tem que apanhar, marginal branco e rico tem que ser olhado com simpatia e paciência. 

Isso me faz lembrar de um senhor que vi outro dia num documentário sobre o sistema prisional brasileiro. Tinha roubado umas havaianas e pegou não sei quantos anos de prisão numa cadeia superlotada. Sofria de tuberculose por conta das condições subumanas a que estava submetido. Ele era negro e pobre, claro. Se fosse branco, rico e tivesse roubado milhões, quando muito estaria em liberdade condicional ou em regime semiaberto, trabalhando em um escritório e ganhando alguns milhares de reais por mês para pagar sua dívida com a sociedade.

E a discriminação não atinge só o preto pobre. Na semana passada, jogando no Peru, Tinga, jogador do Cruzeiro, grande figura humana, muito elogiado até pelos adversários por sua gentileza e educação, foi alvo de torcedores que faziam imitações de macaco toda vez que ele tocava na bola. O mais triste de tudo é que Tinga já está acostumado com isso. Quando jogava pelo Colorado, passou exatamente pela mesma cena num jogo contra o Juventude em 2005. 

É assustador esse tipo de acontecimento em pleno século XXI. Como é possível que tantas pessoas ainda não tenham se dado conta de que a cor da pele não significa absolutamente nada? Não importa se sou branco, negro, indígena, amarelo ou azul, importa saber que sou um ser humano. E como diz o bom e velho Chico César, "alma não tem cor, ela é colorida, ela é multicolor".

O fato é que a mentalidade escravagista continua presente na mente de muitas pessoas. É uma herança infeliz. Negro é macaco, negro tem que apanhar, negro é bandido. São muitos os brancos que se acham melhores e muitos os negros que acabam acreditando que são inferiores, apesar de todo o esforço de conscientização das últimas décadas. Isso tem que acabar, mas o que se vê hoje é que a escravidão continua. Não é uma escravidão de tronco e chibata (exceto por algumas exceções), mas é uma escravidão que está na mente e no coração de muitos. É um vil condicionamento que só vai acabar quando tivermos uma Educação melhor, que pense em formar seres humanos antes de formar profissionais.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Para o coração não há distância

Ok, ok, o título deste post pode parecer um pouco piegas, mas não posso evitar! Quero falar aqui sobre algo que tenho defendido faz tempo e que minha experiência da última sexta-feira demonstrou ser uma realidade gritante: na Educação a Distância há afetividade sim!

Na última sexta tive a felicidade de participar de uma bela cerimônia de formatura na cidade de Jales, interior de São Paulo. Foi a única turma de formação de professores de espanhol na modalidade Educação a Distância que conseguimos abrir naquele polo, pois as regras mudaram e hoje só abrimos turmas no estado do Rio Grande do Sul. Uma pena! O polo e a "turminha estudiosa" foram fonte de muitas alegrias para os professores do curso. Gente estudiosa mesmo, batalhadora, com lindas histórias de vida.

Ao longo de minha trajetória na UFSM já participei de algumas boas cerimônias de formatura. São sempre emocionantes! Mexe com a gente ver aquelas pessoas com quem compartilhamos parte de nossa vida por quatro anos tornando-se professores como nós. Tenho um orgulho enorme de chamá-los de colegas!

Um dos grandes diferenciais nesta formatura foi a distância. Já tinha ido algumas vezes ao polo. Cheguei a levar dezenove horas de viagem nos piores dias: longas esperas em aeroportos, ônibus pinga-pinga, temporal na estrada e por aí vai - ou foi. Nada, porém, ao longo desses anos, foi capaz de quebrar meu ânimo. O importante sempre foi estar lá e ver como era estimulante para os alunos esse contato, essa atenção. Fui o primeiro professor do curso a visitá-los e recebi com enorme alegria o convite para ser seu patrono.

Desta vez, conseguimos ir, um grupo muito animado e divertido de professores, de avião desde Santa Maria até São José do Rio Preto, onde nos buscou o pessoal da prefeitura de Jales e nossa competentíssima tutora presencial. A viagem foi bem mais leve! Muito diferente das vezes em que fui sozinho!

Durante a cerimônia, ouvimos o belíssimo discurso do orador da turma, já professor de inglês e agora também de espanhol. Ele inovou e nos emocionou quando pediu licença aos presentes e terminou seu discurso em espanhol, dirigindo-se diretamente para nós, seus professores. Emocionado também foi o discurso da tutora presencial, sua paraninfa, assim como o de nossa coordenadora, que encerrou a cerimônia lembrando que a cidade de Santa Maria é chamada de "o coração do Rio Grande" e que agora, Jales tem um pedacinho deste coração. Foi muito inspirador!

Eu engoli em seco, entretanto, quando terminada a cerimônia uma de nossas ex-alunas-agora-colega fez um pequeno discurso de improviso antes de cantar duas canções muito significativas para o momento. Aliás, não sabia que a menina tinha esse talento. E que talento! Disse-nos ela algo assim: "Professores, estamos muito felizes com sua vinda aqui! É verdade que Jales hoje tem um pouco do Rio Grande do Sul no seu coração. Esperamos que o Rio Grande também leve em seu coração um pouco de nós. Um pouco de Jales. Nossos corações agora são um só!"

Pois é... e tem gente que diz que na EaD não há afetividade. Bobagem! O carinho que experimentamos no polo e na formatura não foi algo de momento. Foi algo que construímos ao longo de quatro anos. Algumas das professoras que participaram da cerimônia estavam ali pela primeira vez e foi como se houvessem estado sempre. O carinho dos alunos e a recíproca foram completamente verdadeiros. Não houve sorrisos falsos nem abraços frios. O que houve foi gente confraternizando com gente. Professores universitários e professores recém formados em comunhão. Uma comunhão que muitas vezes não acontece nem no presencial.

Eu não tenho mais dúvidas: EaD rima com afeto. Para o coração não há distância.