sábado, 3 de outubro de 2015

Tudo vale a pena... se a alma não é pequena.

Varre. Esfrega o chão. Cozinha. Arruma a mesa. Serve. Lava a louça.

O trabalho é pesado, mas ela o faz com um sorriso no rosto. O trabalho é bem feito, porque feito com carinho e dedicação, mas não é o seu trabalho. Depois de tudo isso, ela se senta detrás de sua mesa e vai tratar das inúmeras questões administrativas e pedagógicas que envolvem qualquer escola. Sim, ela é a diretora e seu nome é Teresinha Barcelos.

Ela não está sozinha, claro. Há outros professores que compartilham com ela essa rotina multitarefas na pequena escola pelotense erguida na carente comunidade de pescadores da Colônia Z3. Mas Teresinha marca porque além de ser uma pessoa querida na comunidade e uma profissional dedicada, é um símbolo.

Um símbolo do descaso dos governos, de cima a baixo, nessa nossa pobre pátria que deveria ser educadora. Professores mal-pagos e humilhados. Professores que apanham da polícia. Professores que têm salários parcelados, que não conseguem colocar comida na mesa e que ainda escutam que têm que ser solidários. Professores que fazem greve porque o salário é parcelado e, por fazer greve, têm o salário cortado.

Mais que tudo, porém, Teresinha é um símbolo dos que não se deixam vencer. Apesar das humilhações, apesar dos parcelamentos, apesar dos cortes, ela olha para seus alunos e sorri. Ela sabe que eles não têm culpa. Mais que isso, ela sabe que é neles que reside a possibilidade de um futuro melhor. Eles não precisam pagar pelo governo corrupto e inepto que domina todas as esferas do poder (dos municípios à União, passando por cada um dos estados). Eles não precisam sofrer porque os poderes instituídos veem a educação como algo de menor importância ou, ainda pior, entendem a força da educação e fazem o possível para nos manter na ignorância. Não... eles precisam de amor.

Teresinha sabe disso. E quando a repórter lhe pergunta se todo o sofrimento e todo o cansaço vale a pena, ela responde com aquele perene sorriso no rosto: "Sempre vale a pena!"

Sim, Teresinha. Vale a pena porque tua alma não é pequena. Tua alma é grande, Teresinha. Grande como é a alma daqueles tantos professores que não desistiram, que não baixaram a cabeça. Professores que compreenderam a grandeza de sua profissão. Não se trata de missão. Não somos monges. Mas somos importantíssimos atores sociais e se fizermos as coisas do jeito certo, podemos mudar o mundo. Eu acredito. A Teresinha também.

Obrigado, Teresinha!