terça-feira, 26 de novembro de 2013

Quem corre, chega mais rápido!

Vida de professor universitário não é brincadeira! Espera... vida de professor não é brincadeira! Quem lida com Educação sabe disso. Preparar uma aula que seja interessante e significativa para os alunos exige bastante. Mobilizar e motivar um grupo de alunos, salvo raras exceções, consome uma quantidade considerável de energia. Avaliar é uma tarefa delicada, que precisa ser bem planejada e pode ser bem estressante. Isso apenas para mencionar os aspectos mais básicos da vida docente.

E o professor que se envolve com projetos? Pesquisar é maravilhoso, mas dá trabalho... principalmente burocrático. Criar e redigir um projeto, preencher formulários e relatórios, analisar dados, publicar. Ah... publicar! A política do publique ou pereça tão estimada pela CAPES, o CNPq e outros órgãos de fomento. No final das contas, temos que publicar tanto que hoje em dia já se está discutindo no meio acadêmico se isso vale a pena mesmo. Publica-se em tanta quantidade que a qualidade fica em segundo plano: os textos acabam ficando rasos. Não há tempo para uma reflexão profunda e para colocar no papel algo que realmente valha a pena ser lido.

Nunca se leu tanto do mesmo do que nos últimos tempos. Os pesquisadores acabam ficando repetitivos. Há aqueles que se dedicam, inclusive, à nobre arte da memorização do dicionário de sinônimos. Os artigos mudam as palavras, mas não o conteúdo.

E os professores que se dedicam à Educação a Distância? Esses nem madrugadas têm. Que ninguém tente perguntar o que eles fazem da meia-noite às seis, pois a resposta será: Dou feedback aos meus alunos da EaD.

Nós, professores, estamos sempre correndo, como se um rio de lava estivesse mordiscando nossos calcanhares: corre ou vais te queimar!

Claro que isso não é prerrogativa nossa. A vida hoje está assim: compromisso em cima de compromisso. Até uma criança de quatro anos têm tantos compromissos na agenda que sequer tem tempo para exercitar o belo ofício de ser criança.

Por sorte, ainda tem gente que pensa neste mundo!

Outro dia, estava chegando à universidade e um colega de outro departamento, professor buena onda e grande humanista, me perguntou: Como estás? Eu: Correndo como sempre! Ele: Cuidado! Quem corre, chega mais rápido... ao fim!

Certamente ele notou meu sorriso amarelo. Foi meio que um soco no fígado. Doeu. A verdade dói. Mas ele tem toda a razão. Semanas depois, após dias dormindo algo em torno de quatro horas para entregar um texto urgente e duas viagens de trabalho seguidas, do tipo de chegar em casa e sair para a segunda viagem pouco mais de duas horas depois, o coração velho me acordou no meio da noite. Arritmia. Coração disparado de pura exaustão. Respirei fundo e fiz minha prática de meditação, já meio esquecida. O coração acalmou. Dormi. No dia seguinte, decidi: chega! Corri demais. Não quero chegar rápido. Prefiro aproveitar o caminho, olhar a paisagem e viver feliz.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Para que ir à escola?

Noite de quarta. Sala de aula cheia e um calorzinho agradável de início de primavera.

O grupo de alunos, todos sentados num grande círculo, compartilha ideias. A proposta é simples. Em cima de temas culturais e históricos previamente distribuídos, cada estudante deve apresentar uma sugestão criativa para ensinar espanhol a um grupo fictício de alunos do Ensino Médio. Alguns se superam e criam verdadeiros diamantes didáticos. Outros tantos se contentam com contas de vidro. Normal! Em todas as turmas há aqueles que surpreendem e aqueles que preferem ser surpreendidos.

Depois de umas quantas apresentações, quase ao fim da atividade, uma aluna, mãos tremendo por um nervosismo que eu não entendo - não sou dos professores que costumam espancar alunos... nem mesmo emocionalmente - fala sobre uma ideia mirabolante de aproveitar elementos de língua e cultura de grupos indígenas andinos como estopim para uma atividade envolvendo espanhol. Ela termina falando do necessário respeito aos povos indígenas e do importante papel social do professor. Essa vai dar das boas, penso eu. Todos aplaudem.

Aproveitando o gancho,  amplio um pouco a ideia sobre a responsabilidade do professor fora e dentro da sala de aula. Termino com a pergunta: para que a gente vai à escola? Alguns instantes de silêncio. Logo, as respostas: "para aprender", "para se educar", "para os pais descansarem", "para ter uma profissão"... Difícil, penso eu. Mudo a abordagem: "Para que a gente vive?" Silêncio... Acho que ninguém tem pensado muito sobre isso ultimamente.

Em meio a olhos espantados com a pergunta, sorrisos amarelos e alguns sussurros, identifico alguma coisa. Peço para o aluno repetir. "Minha mãe diria que a gente nasce para ser feliz." Benditas sejam as mães! São nossas melhores professoras... em geral.

É isso aí, gente, digo eu. A gente nasce para ser feliz. A gente vive para ser feliz. A gente vai à escola para ser feliz. É incompreensível que uma criança vá à escola com medo ou com vontade de não ir. Toda criança deveria amar a escola. Mas para isso, todo professor tem que amar a escola. A gente vai para lá para ser feliz. A escola é o lugar da felicidade por excelência. Chega de alunos tendo como horizonte não mais que a nuca do colega da frente. Chega de professores gritando por atenção. Chega de tédio, sofrimento, agressão. Pais, alunos, mas sobretudo professores temos o dever de criar a escola da felicidade. Não estou dizendo coisas a priori. Rogers já disse isso. Freire cansou de dizer isso. Alves ainda insiste nisso.

Não sou ufanista. Tento manter os pés no chão. Mas se a gente vai à escola para ser feliz, algumas coisas precisam mudar já. Vamos tentar?