domingo, 24 de fevereiro de 2013

A presença humana na EaD

As semanas 3 e 4 do curso de Culturas Digitais (no qual estou levemente atrasado, uma vez que a semana 5 começa hoje), trazem discussões interessantíssimas sobre o ser humano na era digital. Gostaria de começar este post com o vídeo indicado abaixo. Ele tem só 40 segundos.



O vídeo é parte de uma história em capítulos que envolve os personagens Adam e Jane. O rapaz que tecla com Adam está preocupado com Jane e comenta com seu amigo. Adam começa a escrever um e-mail para Jane, mas para, decide esperar um pouco e ligar. Obviamente trata-se de uma propaganda de telefonia, mas a discussão está valendo: por que Adam prefere ligar ao invés de escrever?E que implicações pode ter este simples ato se pensamos na Educação a Distância?

Douglas Hersch, professor da Universidade de Santa Bárbara, nos Estados Unidos, e responsável pela área de tecnologias, está convencido de que uma das melhores maneiras de diminuir os assustadores números da evasão na EaD é o uso do áudio e, sobretudo, do vídeo nas disciplinas. Evidentemente, ele não descarta o uso de textos, mas, na sua opinião, o engajamento dos alunos vai de mãos dadas com a comunicação audiovisual.

O pesquisador embasa suas afirmações em uma pesquisa que realizou em 2009 com um grupo de 145 alunos. Nesta pesquisa, trabalhou com os recursos usuais da EaD (vídeos, textos, podcasts etc.) junto a um grupo e, com outro, a esses recursos acrescentou vídeos seus, falando sobre os conteúdos e "conversando" com os alunos. Segundo Hersch, os resultados obtidos com seus vídeos foram fantásticos, obtendo queda da evasão e uma melhora considerável na qualidade da aprendizagem. Com isso, Hersch quer dizer que a presença humana, mesmo que por meio de vídeos, é aspecto fundamental da aprendizagem.

Em minha experiência, sou obrigado a concordar com o autor. Quando ministro uma disciplina de EaD tenho o costume de elaborar vídeos semanais. São peças caseiras, com algo em torno de 10 minutos de duração, nada muito elaborado. Mesmo assim, a maioria dos meus alunos aponta que esses videozinhos, em que converso sobre o que encontrarão ao longo daquela semana de estudos, ajudam de maneira fundamental na compreensão e no desenvolvimento do conteúdo.

Acredito que mais que minha "bela estampa" e "voz envolvente" ou mesmo ainda minhas "explicações perfeitas", os alunos obtêm melhores resultados porque se sentem motivados pela "presença" humana. As inflexões da voz humana, a emoção que transmitimos são elementos aglutinadores e motivadores. Muito mais, sem dúvida, que o simples texto escrito e disponibilizado semanalmente no ambiente virtual de aprendizagem.

Claro, eu não realizei, ainda, nenhuma pesquisa prática neste sentido, mas acho importante compartilhar estas suspeitas, pois acredito que como Hersch e eu, muito professores de EaD têm sensação semelhante. Dá um pouco de trabalho, mas acho que pelos alunos, vale a pena!

Para quem quiser ler uma matéria sobre o trabalho de Hersch (em inglês), disponibilizo aqui o acesso: link.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Filosofia em quadrinhos I

A partir desta postagem, decidi unir, em uma série, duas coisas de que gosto muito desde pequeno: quadrinhos e Filosofia. Ainda que existam muitos críticos a este gênero - os quadrinhos - preciso dizer que minha vida teria sido bem diferente sem eles. Para começar, foi por meio dos quadrinhos que me alfabetizei. Lembro nitidamente de meus quatro anos de idade e do deleite que sentia ao escutar, pelas vozes dos meus pais, as histórias da Disney e do Recruta Zero (personagem favorito do meu pai à época). Também tenho uma nítida memória de meu pai lendo um número do Incrível Hulk para mim, aos cinco anos de idade, e dos meus esforços para acompanhar a leitura, tentando unir aquelas mágicas e misteriosas runas para formar as tão ansiadas  palavras. Enfim... antes de entrar na escola, o que aconteceu entre os seis e sete anos de idade, eu já lia histórias em quadrinhos.

Hoje, aos trinta e nove, ainda leio. Os quadrinhos evoluíram, claro, e o meu gosto também. Não leio mais Disney (ainda que não tenha qualquer coisa contra), mas gosto muito das novelas gráficas. Confesso, porém, que ainda sou fã de super-heróis. E imagino que talvez aí esteja meu vínculo com a Filosofia. Vou tentar explicar...

Aos sete ou oito anos de idade, comecei a devorar fascículos de coleções que meus pais compravam. Primeiro, uma coleção sobre animais, e logo, sobre personagens históricos (a história de Joana D'Arc marcou profundamente minha imaginação infantil). Nesta última, as histórias de Sócrates e de Platão me chamaram a atenção poderosamente. Claro, era ainda algo muito incipiente, inquietações infantis... mas quem disse que criança não filosofa?

Minha entrada de cheio no mundo da Filosofia, entretanto, se deu quando, aos dez anos de idade, saí da pequena escola do bairro para a grande escola estadual no centro da cidade de Pelotas, o Instituto de Educação Assis Brasil. A escolinha municipal em que estudei até a quarta série não tinha biblioteca. Mas o Instituto... Eu fazia competição comigo mesmo para completar o cartão da biblioteca!

Foi nesse afã que me deparei com uma edição de bolso, um tanto grossa e gasta, de um livro que me marcaria para sempre: Assim Falava Zaratustra, do hoje pop Nietzsche (algumas traduções usam tempo verbal diferente: falou). Fiquei tão encantado com os conceitos do livro e com a figura imponente de Zaratustra que não consegui parar de ler até acabar. Daí a buscar outras obras do bigodudo alemão e, logo, de outros filósofos, do ocidente e do oriente, foi um passo.

Enfim, esse longo preâmbulo serviu apenas para justificar meus interesses. Lendo quadrinhos, aprendi muita coisa sobre física, química, sobre línguas estrangeiras, e, pasmem, sobre filosofia. O clássico personagem de Jerry Siegel e Joe Shuster, o Superman, aliás, incorporou muitos dos conceitos de Nietzsche (ainda que quem entenda de alemão afirme que übermensch tenha mais a ver com além-homem do que super-homem, conceitos consideravelmente diversos).

Para a estréia desta série, então, abro com Calvin e Haroldo. Não à toa, estes personagens no original são Calvin e Hobbes, referência explícita a dois notórios filósofos. Adequada a crianças pelas travessuras divertidas que narra, a história dos dois personagens não raro serve para expressar as inquietações filosófico-existenciais do seu autor, Bill Watterson, provocando reflexões sérias e bastante profundas. Na tira abaixo, uma indagação existencialista, ao estilo de outro ícone pop: Matrix! Para ler melhor, clica na figura!

Calvin diante da poça d'água.

Esta tira pode ser encontrada na página 34 do livro Criaturas Bizarras de outro Planeta.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pluralidade

Neste novo vídeo do curso de Culturas Digitais, há uma história de mistério envolvendo viagens no tempo. Uma mulher é presa. Ela é uma pluralidade, isto é, há duas da mesma vagando pelas ruas de Nova York. As duas são absolutamente a mesma pessoa em nível celular, mas a polícia sabe, pois já enfrentou casos semelhantes, que uma delas veio do futuro. É preciso descobrir qual. Um interrogatório e muito apoio tecnológico acabam resolvendo o problema, ainda que os policiais sigam com dúvidas sobre o motivo de tantas pessoas estarem sendo enviadas de volta. Nenhum dos presos revelou seus motivos.

Apesar da história instigante sobre viagens no tempo, o importante para a discussão de culturas digitais é o cenário que o curta apresenta: uma sociedade megatecnológica em que simplesmente ao tocar no corrimão de uma escada ou encostar os cabelos a uma vidraça a pessoa é identificada. Isso possibilita que qualquer bandido seja imediatamente identificado e capturado. Por outro lado, a privacidade é algo praticamente inexistente. O Estado tem pleno controle sobre cada passo de cada cidadão. 

A pergunta que paira no ar é: vale a pena trocar privacidade por segurança? Segundo as autoridades do filme, sim, porém o que a viajante do tempo sugere é que no futuro isso trará consequências desastrosas. O fato porém, é que em muitos níveis essa fantasia está se tornando realidade. Os sistemas cada vez mais integrados dos governos nos tornam cada vez mais transparentes para o sistema. Além disso, o controle extragovernamental é evidente. Ao navegar por sites na internet, cada passo nosso é monitorado, os sites já sabem nossos gostos pessoais e interesses, a partir da análise de nossas escolhas anteriores. Gradativamente, já estamos perdendo nossa privacidade. Na minha opinião, isso não é nada bom! Mas como lidar com isso?


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

COMA

E o conceito de cursos massivos abertos online ou MOOC (do inglês Massive Open Online Course) está ganhando o mundo. Inúmeras universidades de todo o planeta estão engajadas nesta ideia. São cursos que reúnem dezenas de milhares de estudantes no mundo todo frequentando cursos de extensão de algumas das instituições mais reconhecidas do globo. Eu mesmo estou fazendo, agora, dois cursos pela Universidade de Edimburgo (Escócia), um sobre E-learning e Culturas Digitais e outro de Introdução à Filosofia.

O Centro de Tecnologias da Georgia, nos Estados Unidos, foi o único que decepcionou até o momento. Propôs um curso sobre planejamento e aplicação de cursos em EaD e não conseguiu sequer organizar a formação de grupos. Os professores abriram uma planilha Google Docs para os grupos se organizarem e o resultado foi catastrófico. Muitos não sabiam manejar a ferramenta e os grupos ficaram duplicados, alguns foram apagados... o caos! Numa tentativa de salvar o curso do afogamento, os professores abriram fóruns para que os grupos fossem montados, só que neste momento, alguns grupos, como o meu, já estavam organizados e trabalhando, enquanto outros não sabiam por onde começar. No final das contas, curso suspenso até que os professores pensem em nova estratégia.

Qual não foi minha surpresa, entretanto, quando, estudando alguns conteúdos do curso de culturas digitais, avisto um tweet (sim, eles ficam passando o tempo todo enquanto estamos conectados à página) em espanhol anunciando cursos promovidos pela espanhola UNED, referência internacional em Educação a Distância. Fui lá conferir e, claro, me inscrevi em dois ou três cursos. Se vou dar conta de tudo? Só Deus sabe, mas não custa tentar.

Lá, há coisas tão interessantes como um curso de TICs, uma iniciação ao alemão, uma discussão sobre obras de arte em seu contexto histórico e muito mais. Para quem tinha o inglês como barreira para iniciar um curso nessa nova modalidade de ensino-aprendizagem, que são os cursos massivos, o COMA (Cursos Online Masivos y Abiertos) pode ser uma boa pedida!

Para quem se interessar: link.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Um encontro na era digital

Alguém já pensou em ir para um encontro e ter à mão todos os dados digitais dos diferentes perfis online da menina (ou do rapaz) que convidamos? Estar conectado a um aplicativo de maneira tão completa e ao mesmo tempo tão discreta a ponto de medir as reações da outra pessoa, poder selecionar as palavras certas, conduzir a conversa e até os gestos, sorrindo ou calando nos momentos adequados, e utilizar tudo isso como ferramentas de conquista?

Sonho para alguns, pesadelo para muitos outros, o vídeo Sight mostra como seria um encontro destes.

Atenção para o bacanérrimo game do início do vídeo (ninguém sonhou em voar algum dia?) e para a estranha e até opressora sensação de ver uma pessoa interagir com coisas que os demais não são capazes de perceber, ao melhor estilo "I see dead people!" ou "um dia de esquizofrenia".


Sight from Sight Systems on Vimeo.

Mais da série utopias digitais

O vídeo abaixo é da Microsoft e tem o "singelo" título de Productivity Future Vision. Mostra um futuro extremamente clean em que as pessoas têm absolutamente tudo à disposição nos seus dispositivos móveis, ao alcance dos dedos, desde a lista de supermercado, passando pela comunicação com a família, pelas informações dos clientes e chegando ao ponto central do vídeo: a possibilidade de trabalhar 24 horas por dia!

Claro, as imagens procuram remeter ao lado bom da tecnologia, o encurtamento de distâncias, as possibilidades culturais, mas o próprio título, Produtividade, já diz muito. As possibilidades que nos apresentam as tecnologias, de fato, são maravilhosas, mas quem, por exemplo, trabalha com Educação a Distância sabe que é difícil (ainda que imperativo) encontrar um equilíbrio, pois onde quer que estejamos, o trabalho está ao alcance dos dedos.

Vale muito para refletir!

Um dia feito de vidro 2

A maioria das pessoas interessadas em tecnologias já assistiu o vídeo A day made of glass. Pois a Corning Incorporated, empresa responsável pelo original, lançou agora a segunda edição. Rico em cores, com uma música tranquila que lembra Kitaro, e protagonizado especialmente por duas meninas, o vídeo entra na discussão sobre distopias e utopias em torno das tecnologias reforçando a tese da utopia: um mundo futurista em que o vidro serve de anteparo para projeções digitais de alta qualidade que colaboram em áreas fundamentais da vida humana, como a Educação e a Medicina.

Vale conferir!


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Enciclopédia de Filosofia

Sabes aquele momento em que estás escrevendo um artigo e precisas de uma definição sobre um conceito da Filosofia de maneira clara e objetiva? Pois para quem sabe um pouquinho de inglês ou sabe lidar bem com tradutores online (isso é uma arte), o professor Dave Ward, da Universidade de Edimburgo, indica que o site  Internet Encyclopedia of Philosophy é uma boa pedida.

Para acessar: link.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Nativo Digital, Imigrante Digital

Nativo Digital, Imigrante Digital de Marc Prensky já é um clássico, mas como todo clássico merece ser revisitado com frequência.

O original em inglês: link.

Abaixo, uma apresentação do Slideshare com um brevíssimo resumo em português:



domingo, 3 de fevereiro de 2013

EaD como solução

Segundo John Daniel, Diretor Geral Assistente da Unesco para a Educação, entre 2001 e 2004, a EaD não serve apenas para solucionar o problema das distâncias físicas ou geográficas, como levar educação para regiões rurais ou pequenas comunidades que nunca teriam acesso a uma universidade. EaD aproxima da educação quem está dela separado pelo tempo, pois não pode estar numa sala de aula naquelas horas que a instituição determina; ou pela condição social, pois não se sente confortável circulando nas dependências de uma instituição de ensino particular; ou por determinada deficiência, já que a maioria das universidades não têm as adaptações e os profissionais necessários para receber a uma pessoa surda ou cega. A tecnologia apresenta UM caminho para solucionar muitas dessas questões.

Para o texto completo: link

Inbox

Inbox é outra videoleitura do curso de E-learning and Digital Cultures da Universidade de Edimburgo. De maneira delicada e metafórica, demonstra como as tecnologias podem aproximar as pessoas.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Argumento e Visão

No curso Introduction to Philosophy, da Universidade de Edimburgo, aprendi algo muito interessante com o professor Dave Ward, com base em texto de Hilary Putnam (considerado por alguns como o maior filósofo vivo - sim, ele é homem e não tem nada a ver com Hilary Clinton). Para Putnam, Filosofia envolve visão e argumento. Visão sem argumento gera uma Filosofia que carece de conteúdo, de bases sólidas, de reflexão. Argumento sem visão é discurso vazio, sem coração e sem força.