sábado, 20 de dezembro de 2014

Conectados

Conectamos!

Cansamos de ouvir gente que sequer sabe ligar um computador dizendo que na Educação a Distância não há afetividade. Aí, só nos restou conectar. E conectamos "a lo lindo"!

A primeira edição do Conexión Español foi isso: gente de todo o Rio Grande se conectando, conhecendo-se e reconhecendo-se. Encontramo-nos como velhos amigos, como quem passa por casa uma vez por semana , pelo menos, para tomar um mate, provando que apesar das distâncias, nós estamos juntos.

O evento era para ser pequeno, mas ficou gigante para nossos padrões e modestas expectativas. Mais de duzentos inscritos. Quase cento e cinquenta pessoas compareceram na sede da UFSM vindas de todo lugar do Rio Grande. Tivemos alunos e professores da vizinha Faxinal do Soturno, da quase vizinha Sobradinho, de São Lourenço do Sul, a Pérola da Lagoa, recebemos os queridíssimos e talentosos de Três de Maio com sua "Noche Española", os fronteiriços de Quaraí, o pessoal da pequena e sempre hospitaleira Vila Flores, dos novos polos de Encantado e Tio Hugo, sem falar, claro, do pessoal aqui de Santa Maria, que compareceu em peso.

Alguns polos não vieram. Ok! Acontece. Perderam muito, mas terão outras oportunidades. O que importa é que foi muito bacana rever tantos rostos conhecidos e conhecer aqueles rostos que antes só eram conhecidos pelo Moodle e pelo Facebook. Fiquei comovido com o testemunho de uma aluna: "A professora X nos encontrou no Conexión e foi de um a um, comparando com as fotos, reconhecendo-nos e abraçando-nos".

Foi lindo! Foi pura conexão! Uma conexão que começou já na organização. Angelise, Silvana, Tatiana e Luana, professoras que compõem o NDE comigo, foram grandes parceiras. Nossa conexão foi essencial para dar o primeiro passo e todos os passos que se seguiram. Depois, veio nossa parceria com a coordenação da profe Vanessa e com tantos colaboradores, muitos dos quais colocaram a alma para que o evento acontecesse.

O texto ficaria demasiado longo se citasse todos, mas, meus queridos, sintam-se mencionados e recebam meus mais sinceros agradecimentos. Professores e alunos do nosso curso se uniram aos nossos esforços iniciais. Abraçaram a causa. Alunos do presencial se colocaram a nosso lado e trabalharam como loucos. Muitos colegas apareceram pelo simples prazer de ajudar. Jorgelina Tallei, Vilson Leffa e Valdo Barcelos, nossos palestrantes, fizeram tudo no amor e na amizade. Sem esquecer a fantástica ajuda dos professores oficineiros!

Faz quase um mês, mas precisava de tempo para escrever e agradecer como deve ser feito. Muita gente elogiou minha iniciativa e meu trabalho. Mas eu só estava ali e fiz parte de tudo. O mérito é do grupo! O mérito é daqueles que vieram, viajando longas horas, e participaram, curtindo cada momento. O mérito é do afeto que construímos ao longo dos semestres, mesmo por meio do Moodle e muitas vezes apesar dele.

O E da EaD é Educação. Para os desavisados, alerto: não se faz educação sem afeto, não se faz educação (nem presencial) sem conexão. Nós conectamos!

Gracias a todos que se conectaram!

domingo, 14 de dezembro de 2014

Tempos Modernos

Com uma chave de rosca em cada mão, lá vai ele torcendo parafusos alucinadamente enquanto as peças metálicas passam a sua frente sobre a esteira veloz. O movimento é preciso, mas rápido. Não há tempo a perder. A fábrica não pode parar. A sociedade precisa consumir.

Claro que já deu para perceber que essa é uma cena do filme Tempos Modernos, clássico de Charles Chaplin, que faz uma crítica à sociedade industrializada, mecanizada, desumanizada. É a sociedade do superespecialista. Ele só sabe torcer parafusos e precisa torcê-los rápida e precisamente. Ele não tem nem ideia de como aquelas peças surgiram na sua frente. Ele sequer imagina o que é que vai sair lá ao final da linha de montagem. O superespecialista precisa ser bom no que faz, mas o resto é o resto e não interessa. Se ele sabe torcer bem o parafuso, melhor deixar os mistérios do Universo para os filósofos ou místicos.

Fico decepcionado ao ver como isso ainda é tão forte na Academia. Certa vez, convidado para participar de uma mesa redonda sobre tecnlogias digitais para o ensino de línguas, área em que trabalho há anos, fui apresentado como doutorando em Educação. Uma pesquisadora bem conhecida, ao final do debate, veio conversar comigo e questionou minha escolha. Por que Educação? Ela estava visivelmente contrariada. Para mim, a explicação é simples: trabalho com formação de professores, fiz graduação em Letras-Espanhol e sou Mestre em Linguística Aplicada. A Educação me permite ampliar alguns horizontes e estou muito feliz onde estou. Então, a pergunta é: por que não?

Essa é a maldição da superespecialidade que acomete a Academia. Se eu fiz graduação em Letras, é heresia ser doutor em outra área. E isso se repete na maioria das ciências.

O mais triste é ver como isso afeta alguns alunos de graduação. Trabalho num curso de formação de professores de espanhol que tem disciplinas que envolvem História e cultura da Espanha e dos povos latino-americanos, entre outros aspectos que vão muito além da língua. Fiquei surpreso ao ouvir a crítica de um aluno comentando que não vai ser professor de História e por isso essas disciplinas são totalmente irrelevantes para ele. Que triste!

Imaginem uma pessoa jovem com uma mentalidade dessas! Sempre explico para meus alunos, já no primeiro semestre, que um professor de língua estrangeira tem que dominar aspectos culturais, históricos, geográficos, artísticos... enfim, muita, muita coisa mesmo além da língua. Não é fácil ser um professor de espanhol. Não basta decorar regras gramaticais ou saber fazer análises sintáticas. Bom... até pode ser suficiente para conseguir um emprego qualquer, mas esse - lamento dizer - é apenas o caminho da mediocridade.

O Brasil de hoje precisa de professores que pensem amplo, que vejam longe, que saibam educar para a vida e a vida é muito mais que um punhado de normas de gramática. Acredito em professores que sejam modernos Da Vinci, sempre abertos ao novo, capazes de transcender o limite estreito de uma ciência monolítica. Que São Edgar Morin possa nos socorrer!