quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Tudo vale a pena se a alma não é pequena!

Corre o ano de 1989. Estudantes chineses, de peito aberto, enfrentam tanques de guerra na Praça da Paz Celestial. O muro de Berlim é derrubado a marretadas enquanto famílias separadas por décadas se reencontram emocionadas. O Dalai Lama dá novo impulso a sua luta pela libertação do Tibet ao ganhar o Prêmio Nobel da Paz.

Corre o ano de 1989. Eu, adolescente, ao som de Legião Urbana, embrenho-me em minha primeira peleia política. Era a primeira eleição livre para Presidente do Brasil após os anos da ditadura militar e, mesmo não podendo votar ainda, como bom gaúcho, defendi ferrenhamente o velho Brizola nos debates acalorados entre estudantes nos corredores da Escola Técnica Federal de Pelotas – mais tarde CEFET, hoje IFSul. Brizola perdeu. Lula perdeu. Collor ganhou... o resto já se sabe...

O ano de 1989 correu e, apesar de não trazer tanta sorte para o Brasil quanto trouxe para o resto do mundo, foi um ano bom para mim. Foi nesse ano que me tornei consciente, pela primeira vez na vida, de que por trás de toda a minha timidez o que eu realmente queria fazer era trabalhar com palavras e ser professor. Isso aconteceu graças ao mestre Jorge Moraes, professor de Português e Literatura. Ele propôs uma série de temas que cada aluno deveria assumir para apresentar na forma de uma palestra ao final do semestre. Algo em torno de dez minutos. Escolhi “Música, Retrato de uma Época”. Falei animadamente por quase 30 minutos e terminei com o célebre trecho do poema de Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. O professor Jorge se emocionou. Eu me emocionei. Esse momento nunca mais me abandonou.

Mais de dez anos depois, voltei a estudar. Resolvi fazer um curso superior e optei pela Licenciatura em Letras-Espanhol. Era, então, programador e professor de informática. Minha vida tinha dado muitas voltas e as circunstâncias me tornaram um enamorado da língua de Cervantes, Neruda e Benedetti. Uni duas paixões: a língua e a docência. Tive bons professores na UFPel, mas foi o mais exigente, aquele que fazia temblar a não poucos que me cativou por seus projetos e por sua dedicação. Com o professor Elton Vergara Nunes aprendi muito, mas, sobretudo, entendi o significado da inclusão.

Quando, mais tarde, cheguei ao mestrado na UCPel, já professor de língua estrangeira e ainda entusiasta das tecnologias, encontrei meu guru definitivo, o professor Vilson Leffa com seu imbatível axioma: “Se não és capaz de explicar tua teoria para um doutor e para uma criança e ser entendido por ambos, tua teoria não é boa”. Difícil, muito difícil mesmo ver na academia tanta humildade e humanidade em um profissional cujo nome é tão reconhecido internacionalmente.

Agora, como professor da UFSM, nos Cursos de Espanhol do presencial e da EaD, e doutorando em Educação, tenho a sorte de contar com vários bons parceiros. Meu orientador, professor Amarildo Trevisan, que me guia pelos mistérios da Hermenêutica e do Reconhecimento; professora Vanessa Fialho, parceira de todas as horas, que me ensinou a importância do bom humor na academia; professora Angelise Fagundes, a companheira que compartilha não só minha vida como também a crença na possibilidade de uma educação humana e afetiva. São alguns dos nomes que saltam entre tantos que lamento não poder citar.

Professores! Tive muitos desde a professora Marlene lá na primeira série no inicinho dos anos 1980. A grande maioria me deu grandes exemplos e é uma pena que não tenha mais espaço para falar de cada um deles. Poucos me decepcionaram. Seja como for, cada um colaborou para que eu me tornasse quem sou hoje. Agradeço-lhes diariamente e mais especialmente ainda neste mês em que comemoramos o dia dos professores. Obrigado, meus professores, por me ensinarem a ser. Obrigado, meus colegas, por me ensinarem a compartilhar. Obrigado meus alunos, futuros professores, por me lembrarem a cada dia de que “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

2 comentários:

  1. O Marcus é um cara especial. Para quem o conhece, é desnecessário falar de suas qualidades. Para quem não o conhece, sugiro primeiro aproximar-se dele. Poderia contar muitas histórias para mostrar o quanto o Marcus é especial em minha vida de professor, como ele marcou presença com sua humildade e conhecimento desde os primeiros momentos de aula, voz suave, letra bonita, precisão nas palavras, clareza nas ideias, criatividade, presteza, coleguismo com os demais iniciantes... mas isso é pouco. Um aluno que no primeiro semestre de espanhol escreve sozinho uma proposta de um projeto de pesquisa em língua espanhol, não é para poucos. Embora com nota final dez no semestre, após encerrar a matéria, numa aula de recuperação de conteúdos, optativa, lá estava ele, sentado no fundo da sala, tentando aprender algo mais ainda. Aproveitando toda as oportunidades. Certamente não foi ali que começou sua sorte de sempre tirar os primeiros lugares, deve ter iniciado lá no primeiro ano. Tornou-se monitor; ainda na graduação, deu aula junto comigo (tenho saudade daquele tipo de aula dialogada!). A partir daí, nossos caminhas não se cruzaram, mas coincidiram muitas vezes na mesma direção. Biblioteca Virtual de Letras, Audioteca, gravações, muitas gravações, produção de material, ensino a distância, aulas dialogadas ante as câmeras, autoria de livros, artigos... Isso tudo, entretanto, pode-se conseguir com competência e trabalho. Do Marcus pode-se esperar mais. E como alguns privilegiados, consegui sua amizade. Me fez seu padrinho. Hoje, é um cara que sei que posso contar para as indiadas mais complicadas, a quem não posso negar jamais qualquer pedido.

    Marcus, meu amigo, ser lembrado por ti nesta homenagem é mais do que especial, pois, se foste um ótimo aluno, se és um ótimo colega, se és um excelente professor é por sorte, essa tipo de sorte que as pessoas especiais forjam com as próprias mãos durante uma vida toda. Tu és um cara especial. Minha casa segue sempre aberta a ti, para uma sala de fruta, um sorvete, um papo amigo, sempre que puderes.

    Um abraço neste dia, extensivo a todos os colegas professores que vamos fazendo em nossa carreira.

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    1. É emocionante ler estas palavras! Obrigado sempre pelo grande exemplo de profissional e pela inabalável amizade!

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