quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Para que ir à escola?

Noite de quarta. Sala de aula cheia e um calorzinho agradável de início de primavera.

O grupo de alunos, todos sentados num grande círculo, compartilha ideias. A proposta é simples. Em cima de temas culturais e históricos previamente distribuídos, cada estudante deve apresentar uma sugestão criativa para ensinar espanhol a um grupo fictício de alunos do Ensino Médio. Alguns se superam e criam verdadeiros diamantes didáticos. Outros tantos se contentam com contas de vidro. Normal! Em todas as turmas há aqueles que surpreendem e aqueles que preferem ser surpreendidos.

Depois de umas quantas apresentações, quase ao fim da atividade, uma aluna, mãos tremendo por um nervosismo que eu não entendo - não sou dos professores que costumam espancar alunos... nem mesmo emocionalmente - fala sobre uma ideia mirabolante de aproveitar elementos de língua e cultura de grupos indígenas andinos como estopim para uma atividade envolvendo espanhol. Ela termina falando do necessário respeito aos povos indígenas e do importante papel social do professor. Essa vai dar das boas, penso eu. Todos aplaudem.

Aproveitando o gancho,  amplio um pouco a ideia sobre a responsabilidade do professor fora e dentro da sala de aula. Termino com a pergunta: para que a gente vai à escola? Alguns instantes de silêncio. Logo, as respostas: "para aprender", "para se educar", "para os pais descansarem", "para ter uma profissão"... Difícil, penso eu. Mudo a abordagem: "Para que a gente vive?" Silêncio... Acho que ninguém tem pensado muito sobre isso ultimamente.

Em meio a olhos espantados com a pergunta, sorrisos amarelos e alguns sussurros, identifico alguma coisa. Peço para o aluno repetir. "Minha mãe diria que a gente nasce para ser feliz." Benditas sejam as mães! São nossas melhores professoras... em geral.

É isso aí, gente, digo eu. A gente nasce para ser feliz. A gente vive para ser feliz. A gente vai à escola para ser feliz. É incompreensível que uma criança vá à escola com medo ou com vontade de não ir. Toda criança deveria amar a escola. Mas para isso, todo professor tem que amar a escola. A gente vai para lá para ser feliz. A escola é o lugar da felicidade por excelência. Chega de alunos tendo como horizonte não mais que a nuca do colega da frente. Chega de professores gritando por atenção. Chega de tédio, sofrimento, agressão. Pais, alunos, mas sobretudo professores temos o dever de criar a escola da felicidade. Não estou dizendo coisas a priori. Rogers já disse isso. Freire cansou de dizer isso. Alves ainda insiste nisso.

Não sou ufanista. Tento manter os pés no chão. Mas se a gente vai à escola para ser feliz, algumas coisas precisam mudar já. Vamos tentar?

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