quarta-feira, 12 de junho de 2013

Quem quer ser professor?


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Ela chora... Suas lágrimas são também minhas. São as lágrimas de todos nós, brasileiros de boa índole. A maioria dos brasileiros. Um povo que trabalha muito, que dá duro todos os dias para ter comida na mesa.

Jeitinho brasileiro? Brasileiro malandro? São poucos. Infelizmente, são eles que mandam no país. Não, por favor, não me entendam mal! Não estou dizendo que todo mandatário, todo administrador público é malandro. Mas que os mais malandros estão nestes postos... ah, qualquer negação seria vã!

As lágrimas dessa mulher não são simples lágrimas pelo salário perdido. Não são lágrimas por um corte arbitrário, abusivo, monstruoso, criminoso nos salários dos professores de Juazeiro. São as lágrimas por um país que ainda não aprendeu o valor da educação.

Lágrimas por um país em que os pais acreditam que a educação dos seus filhos é responsabilidade exclusiva dos professores. Lágrimas por um país que investe milhões de dólares em tecnologias para a educação, mas paga salários aviltantes a seus professores. Lágrimas por um país que se submete às normas internacionais de "excelência", em que conhecimento é sinônimo de nota e onde as escolas e os professores são penalizados quando as avaliações de seus alunos não alcançam tais níveis. Lágrimas por um país que exige qualificação de seus professores, mas não cria as condições necessárias para que isso se torne realidade.

Não quero vitimizar os professores. Como em qualquer profissão, há bons e maus professores. A questão é que os melhores professores ganham menos que os piores advogados ou os piores médicos. E por acaso nós, professores, somos menos profissionais ou produzimos menos que um médico ou um advogado? Não creio. Talvez, se os professores tivessem melhores condições de trabalho, precisássemos de menos médicos e de menos advogados.

Quando é que nosso governo vai realmente entender que a educação é a base da sociedade e que esta base é sustentada pelos professores? Quando é que o governo do Rio Grande do Sul vai resolver pagar o piso nacional que nega, apesar de ter sido seu atual governador um dos grandes arquitetos dessa lei? Quando é que os vereadores dos Juazeiros de nosso Brasil vão finalmente ter vergonha de tirar 40% do salário dos professores que trabalham dia e noite (sim, de noite vamos para casa preparar as aulas e corrigir os trabalhos de nossos alunos sem ganhar mais por isso) e assumir que seus salários de 10 mil reais e sua carga horária de dois dias semanais são, para dizer o mínimo, vexatórios?

E diante de todo esse quadro, especialistas ainda se perguntam por que os índices de evasão das licenciaturas hoje são tão altos e os índices de ingresso proporcionalmente tão baixos. Nessas condições, quem quer ser professor?

Em algum momento, imaginei que as coisas estavam melhorando. Agora, tocado pelas lágrimas dessa professora, só me resta fazer coro ao saudosíssimo Renato Russo: que país é este?


*Imagem disponível em http://imguol.com/c/noticias/2013/06/08/8jun2013---professora-chora-diante-da-aprovacao-da-reducao-do-salario-dos-professores-em-juazeiro-do-norte-no-ceara-o-corte-pode-chegar-a-ate-40-1370736492031_615x300.jpg

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