sábado, 8 de março de 2014

Coisas de mulher


Há algumas semanas circulou intensamente pela internet o curta-metragem Maioria Oprimida ou Majorité Opprimée, no original francês, dirigido brilhantemente pela cineasta francesa Eléonore Pourriat. Trata-se de um curta premiado, já com uns quatro anos de idade, mas que só agora, com o auxílio das redes sociais, ganhou o grande público. E é GE-NI-AL!

O filme mostra uma sociedade dominada pelas mulheres e tem como protagonista um homem, dono de casa, que cuida das crianças e cumpre todas as atribuições tradicionalmente imputadas ao sexo feminino na nossa sociedade patriarcal. O que mais chama a atenção, entretanto, é a violência, às vezes implícita, outras nem um pouco, que ele sofre. Caminhar pela rua com as mulheres olhando seu traseiro quando passa, ser abordado e ter que ouvir piadinhas de uma mulher de aspecto assustador parada numa esquina, quando se vê obrigado a parar de bicicleta num sinal vermelho, é o mínimo. A situação, até o fim do filme, fica bem pior. O sexismo, a opressão e os exercícios de poder não param. 

Comentando o filme, a jornalista Joana Calmon disse que sentiu compaixão pelo protagonista e que, talvez, se fosse uma mulher no papel, ela não se impressionaria tanto. É fato! O vídeo choca a audiência pela inversão dos papéis, porque nele, consegue-se ver desde outro ponto de vista a realidade cruel do abuso por que as mulheres passam todos os dias.

Está nos jornais, está pelas ruas. São pais que não deixam que as filhas estudem na universidade porque mulher tem que pilotar fogão. São maridos que proíbem as esposas de trabalhar porque é o homem que tem que prover. São os colegas de trabalho com suas piadinhas machistas. São vagabundos na rua que não perdem a oportunidade de dizer uma bobagem qualquer para lembrar à mulher de que ela é só um pedaço de carne e, assim, reafirmar sua flácida hombridade.

São homens tristes estes. Sombras de homens, na verdade, porque um homem que não sabe respeitar uma mulher, sequer de homem pode ser chamado.

Não quero ser piegas, tampouco colocar o sexo feminino num altar. Elas, como nós, são pessoas. Humanos seres com humanas falhas. Loiras, morenas, altas, baixas. magras e gordas. Gente como a gente. E essa é a constatação mais triste: há gente que não respeita gente. Chamar um homem negro de macaco ou uma mulher de vagabunda denota o mesmo tipo de miséria humana. É a miséria do espírito. Algo que só pode ser solucionado com a Educação, mas não esta compartimentada, fragmentada e empobrecida que temos hoje, e sim com uma Educação humanista, que nos faça refletir mais seriamente sobre quem é o ser humano sobre este planeta, o que nos diferencia e o que nos aproxima. Se entendemos melhor aquilo que é diferente de nós, passamos a respeitá-lo mais.

Independente da longa trilha que ainda há a percorrer, neste dia da mulher de 2014, gostaria apenas de dizer obrigado a todas estas mulheres com quem tive e tenho a sorte de conviver em minha vida. Minhas colegas de trabalho, professoras com quem compartilho tantos sonhos de construir um mundo melhor. Minhas alunas que me ensinam tanto todos os dias. Meus antigos amores, que me fizeram amadurecer e aprender a respeitar ainda mais o sexo feminino. Meu amor de hoje, que com sua inteligência, doçura e paciência me trouxe um pouco de paz e equilíbrio. Minha irmã, que realizou, por amor, o milagre da maternidade pela segunda vez há menos de um mês. Minhas sobrinhas recém nascidas, Brenda e Antonia, para quem, espero, o mundo possa ser um lugar mais acolhedor. E acima de todas, minha mãe, hoje mulher-anjo, que me ensinou os primeiros passos, as primeiras letras e estabeleceu indelevelmente dentro de mim a admiração por estas criaturas que fazem do mundo um lugar um pouco menos assustador de se viver.

Feliz Dia Internacional da Mulher!


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