sexta-feira, 13 de junho de 2014

Respeitar para ser respeitado

Minha mãe sempre me dizia mais ou menos assim: "Respeita as pessoas e elas vão te respeitar. E se, por uma pobreza muita grande de espírito, elas não te respeitarem na mesma medida, no mínimo, vais ter tua consciência tranquila. Vai em frente de cabeça erguida e deixa para trás a ofensa. Esse tipo de pessoa não merece que percas uma noite de sono."

Espero que a presidente (ou presidenta, como ela prefere) Dilma tenha tido uma mãe como a minha e recebido um conselho como este, pois o triste espetáculo de ontem é algo para ser transcendido (jamais esquecido). Ontem, como a maioria dos brasileiros, assisti chocado a uma falta de respeito imensa. A presidente não foi apenas vaiada, mas um coro desaforado de gente pouco inteligente, porquanto incapaz de debate democrático e argumentação coerente, gritou em uníssono que ela deveria "tomar no c..."

Depois de testemunhar o fato na TV, li a notícia em vários meios de comunicação e blogs, e fiz questão de percorrer os comentários. O debate, em todos os lugares, foi acirrado, acalorado. Chamou-me atenção, entretanto, a violência, a truculência verbal dos críticos da Dilma. Na grande maioria dos comentários que li, quando eles não terminam mandando "tomar no c..." optam pela igualmente deselegante "vá se f..." Regra geral, claro, com honrosas exceções.

Vejam bem, não morro de amores por ela ou por seu governo. Não sou, nunca fui e creio que jamais serei fã do Lula ou ativista do PT. A corrupção e os erros acompanharam ambas as administrações, mas não vejo, neste aspecto, nada de muito diferente dos governos do PSDB ou similares de direita, por exemplo. Vivemos uma Era Collor com impeachment. Vivemos uma Era FHC com privatizações vergonhosas. Parece que as pessoas esquecem.

Não estou dizendo que não se deva protestar. Sou amplamente favorável à manifestação democrática. Só penso que democracia não rima com violência, seja ela física ou verbal. Há maneiras inteligentes de se fazer ouvir.

Talvez algumas pessoas argumentem que não respeitam a Dilma porque ela não os respeita. Tudo bem! Mas nunca vi a Dilma mandar alguém tomar no c... em público. Se o desrespeito que veem nela vem de seus atos políticos, é preciso agir politicamente para combatê-la.

Não posso calar-me, porém, diante da realidade que vivo: o cotidiano da educação. Há muita coisa errada, há inúmeras coisas para melhorar, mas não posso negar que as condições que temos hoje na universidade são muito melhores do que as que tivemos com Fernando Henrique. Hoje, muitas mais pessoas têm a chance de cursar uma universidade do que ontem e cada vez mais o número cresce.

Não concordo com muitas opções do MEC sobre avaliação da educação, por exemplo, mas como professor, faço questão de debater e expor meu ponto de vista onde quer que vá, procurando manter coerência e equilíbrio. Não preciso ofender a pessoa de quem discordo. Eu mesmo, em consequência dos textos que publico, já fui ofendido por gente que não tem mais argumento que a violência, a palavra grosseira e ofensiva, mas sempre procuro responder com a voz da razão.

Felizmente, as vozes que se ergueram ontem no estádio eram evidentemente minoria. Uma minoria que pagou no mínimo seiscentos reais para estar ali. Por que tanta violência justamente dessas pessoas? Isso dá o que pensar! Seja como for, independente do que pretendiam, o fato é que sua ação brutal o que conseguiu foi causar uma onda de simpatia pela ofendida. Em mais de uma ocasião, nos debates que li, identifiquei pessoas afirmando que não votariam na Dilma na próxima eleição, mas que mudaram de ideia diante do triste espetáculo.

Então, acho que minha mãe tinha razão: quem não respeita, não é respeitado.

5 comentários:

  1. Caro Marcus, Iniciei meu dia bem cedo e vejo estas lindas e coerentes palavras suas. Tomara muitas outras pessoas, ainda sendo do nosso "esclarecido" setor acadêmico tivessem ideias semelhantes com as suas. As coisas funcionariam muito melhor que agora. Parabéns!

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    1. Obrigado, grande amigo! É um prazer ouvir este comentário vindo de ti!

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  2. Muito bom, professor. A falta educaçao tambem esta envergonhando o nosso pais e nao e culpa do governo.

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    1. Obrigado, querido Anônimo! Acho isso preocupante também!

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